me enterrem com os trotskistas
na cova comum dos idealistas
onde jazem aqueles
que o poder não corrompeu
(Paulo Leminski)
Firmou-se
a falsa ideia de que “o socialismo não deu certo”. Basta pronunciar a palavra
“socialismo” e lá vem o discurso padrão! O surgimento de uma nova sociedade é
um processo contraditório e não pode ser visto pela ótica utilitária do
consumidor de classe média que pega uma mercadoria na prateleira e liga para o
PROCON se ela “não funciona” como o esperado. Além deste reducionismo, o debate
sobre “socialismo” é refém de uma grande ignorância, pois aqueles que sustentam
que “não deu certo” nunca abriram uma única página de qualquer livro que
analisa detalhada e cientificamente o problema das antigas experiências
socialistas.
O
socialismo é um sistema alternativo ao capitalismo. Não existe uma receita de
bolo para aplicá-lo e nem um modelo pré-pronto. As experiências “socialistas” que
tivemos degeneraram em regimes de nova opressão, chamados de stalinismo. Isto
não atesta a ineficiência do socialismo. É, antes de tudo, fruto do isolamento
internacional, da guerra, da derrota da revolução nos demais países europeus,
do atraso da herança cultural e econômica dos países onde ocorreram, da
política catastrófica de suas direções stalinistas e do seu programa; em suma,
da conjuntura histórica de que cada país era refém. Lembremos que todas as
revoluções do século 20 ocorreram em países extremamente atrasados. A história
nunca nos brindou com uma revolução socialista em um país imperialista.
Ainda existe socialismo?
Atualmente,
nenhum dos países que são insistentemente taxados de “socialista” pela grande
mídia e pelo senso comum o é realmente. O socialismo não pode existir em só um país.
Cuba, China, Coréia do Norte são países que já regrediram ao capitalismo,
apesar de, em alguns casos, manter à cabeça do governo membros ou partidos que
viveram e dirigiram a revolução no passado. Para todos aqueles que estudaram a
fundo a história do movimento operário – sobretudo o trotskismo – a restauração
do capitalismo não é nenhuma surpresa.
As vertentes socialistas de pensamento
É preciso
dizer que existem diversas vertentes de pensamento dentro do movimento
socialista: revolucionária, reformista, anarquista, etc. Algumas das mais
importantes se conformaram dentro da União Soviética (URSS). Cabe destacar a
luta entre o stalinismo e o trotskismo, que foram decisivas para o desfecho das
experiências socialistas, uma vez que o primeiro consolidou um aparato político
não apenas dentro da URSS, mas em diversos outros países através dos PCs ou
mesmo cooptando as lideranças das revoluções que triunfaram posteriormente
(coreana, cubana, chinesa).
Trotskismo X stalinismo: duas maneiras de interpretar a ditadura do
proletariado
O
trotskismo foi a corrente política que manteve vivo o pensamento marxista e
leninista frente às grotescas distorções teóricas do stalinismo para justificar
a sua prática política. Corajosamente os oposicionistas trotskistas
denunciaram, um a um, cada desvio programático e cada fato absurdo na condução
política do aparato. Em especial o trotskismo deu um grande destaque à denúncia
da degeneração do partido: asfixia dos organismos de base, seguidismo,
conchavos de bastidores, pseudo educação política que nada mais era do que o
esvaziamento do pensamento crítico; perseguições, falsificações, deportações,
prisões e torturas.
Como funcionava a cabeça do aparato soviético?
Stalin
manobrou de todas as formas possíveis até ter em suas mãos todos os fios do
aparato e liquidar seus oponentes, chantagear os indecisos, comprar os
vaidosos, amedrontar os medrosos; falsificar fotos, livros, posições políticas
de qualquer adversário (mas em particular do trotskismo). Matou um a um os
velhos bolcheviques, pois estes representavam uma ameaça somente por saber qual
era o verdadeiro legado de Lenin. Distorceu a teoria marxista como poucos, pois
mudava de posição conforme suas conveniências e usava o poder do aparato para
naturalizá-la contra qualquer possibilidade de questionamento.
O pior legado de Stalin
Contudo, o
pior legado de Stálin não foi a repressão, mas o fato de ter enlameado o nome
do socialismo e o de Lenin perante os olhos dos trabalhadores do mundo,
facilitando a campanha ideológica da burguesia e a subsequente restauração do
capitalismo. Trotsky teve razão quando o denunciou como o “coveiro da revolução”!
Em memória dos trotskistas
Os trotskistas
corajosamente lutaram contra tudo isso em uma situação histórica dramática:
isolados, caluniados, perseguidos. Afirmaram: “seguiremos criticando o regime
stalinista até que fechem nossa boca fisicamente”. E assim se deu efetivamente:
Trotsky foi expulso da URSS em 1929, muitos dos seus partidários foram presos,
deportados para a Sibéria, coagidos a capitular ou mortos. Stálin não desistiu
até conseguir assassinar Trotsky, no México, em 1940, pois sabia que a sua
denúncia era implacável, muito bem armada e impossível de ser respondida (a não
ser pela calúnia ou pela violência). O trotskismo nos legou uma preciosa obra
política e teórica capaz de nos dar lucidez para formarmos um verdadeiro juízo
sobre o que foi a experiência “socialista” na Rússia.
Stálin sincero: ao menos uma vez!
Na grande obra
de Pierre Broue, O Partido Bolchevique,
podemos tomar consciência de todo o processo de degeneração do partido e do
Estado soviético que levaram ao surgimento do stalinismo. Sua valiosa pesquisa
histórica é imprescindível para as gerações futuras e é leitura indispensável
para qualquer indivíduo que queira ter opinião sobre “socialismo”. O livro tem
o seu ponto alto quando traz a declaração de Stalin, registrada em ata, sobre a
expulsão de Trotsky da URSS; única vez em que abriu seus planos:
Trotsky deve ser exilado no estrangeiro: 1º)
Porque enquanto permaneça no nosso país, será capaz de dirigir ideologicamente
a oposição, cuja força numérica aumenta incessantemente; 2º) Para ser
desacreditado perante as massas mundiais como um cúmplice da burguesia, a
partir do momento em que se encontre em um país burguês; 3º) Para poder
desacreditá-lo frente ao proletariado soviético, pois, sem dúvidas, a
social-democracia se utilizará de seu exílio contra a URSS, correndo ao auxílio
de Trotsky, “vítima do terror bolchevique”; 4º) Se Trotsky atacar a direção com
denúncias, poderemos acusá-lo de traição. Todas essas razões depõem pela
necessidade de exilá-lo[1].
Eis uma
pequena mostra de como a direção política stalinista liquidou a vertente
socialista progressiva de dentro do território soviético, levando o socialismo
a “não dar certo”.
Como se combate a monstruosa herança stalinista?
Os
trabalhadores precisam perceber que se combate o stalinismo com a democracia
operária (conselhos populares, liberdade sindical aos trabalhadores, socialização
das decisões de estado, etc.) e não com a democracia burguesa, que pressupõe o
capitalismo como sistema econômico; e este, como se vê, não representa futuro
algum para a humanidade.
O que a burguesia recomenda para se entender o que é o socialismo?
A
burguesia, através da sua grande mídia, sempre recomenda os mesmos livros
viciados, traiçoeiros, que mostram as experiências socialistas através da sua
ótica. Não há debate político, mas veneno subjacente. O oponente não olha nos
olhos, mas pelas costas. Abaixo seguem alguns títulos:
-
1984 e A revolução dos Bichos, de George Orwell;
-
O zero e o infinito, de Arthur Koestler;
-
O livro negro do comunismo, de vários autores;
-
Tudo o que você precisa saber para não ser um idiota, de Olavo de Carvalho
E
outras preciosidades do gênero...
Para saber realmente sobre socialismo é preciso ler mais do que é
vendido pela grande mídia
Para
quem quiser ter opinião sobre socialismo (e não preconceito), recomenda-se as
seguintes leituras que nos contam a experiência socialista pela ótica dos
trabalhadores avançados:
- O Partido Bolchevique, de
Pierre Broue
- A revolução traída; A revolução
desfigurada; As lições de outubro; Stálin, o grande organizador de derrotas; A
internacional depois de Lenin; A revolução russa – conferência; A natureza da
burocracia soviética; Minha vida; dentre outros livros de Trotsky.
- Cartas das secretárias e o
Testamento de Lenin, bem como os seus últimos artigos;
É importante ler as duas listas e
comparar o conteúdo de cada bibliografia.
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