A educação especial é um sinal dos nossos tempos.
De repente descobriu-se uma série de transtornos e deficiências nos mais variados níveis entre as crianças e passou-se a levá-los em consideração.
No entanto, a maneira como se tem feito isso é que gera transtornos na vida dos professores, dado que se chega com inúmeras demandas, exigências, protocolos formais e, muitas vezes, estúpidos, em sistemas educacionais saturados e repleto de problemas nunca enfrentados.
Eu, particularmente, considero importante incluir os alunos especiais em turmas regulares, porém, isso deve ser feito com sabedoria e sem pressão descabida.
Sinceramente, eu penso que o que podemos fazer em salas de aulas com 25 ou 30 alunos é observar o comportamento dos alunos especiais e a sua relação com a turma. Que todos os especialistas, psicólogos, supervisores, "gestores", prefeitos, governadores e presidentes assumam uma sexta ou sétima série por uma semana e tentem dar aula para ver se eu estou exagerando.
Caso passem nesse teste, aí terão autoridade para exigir com rispidez e autoritarismo.
A "grande solução" encontrada para enfrentar as demandas foi colocar monitores, que acompanham os alunos especiais. Sem dúvida é muito importante, mas ainda assim não resolve o problema, dado que muitas vezes estes também são tomados por outras tarefas, não podendo estar diariamente. Além do que, na maioria das vezes, com inúmeras turmas, exigências burocráticas, trabalhos e provas, é muito difícil e penoso realizar "atividades especiais".
Os nossos "gestores" da educação querem ganhar os seus "selos de qualidade" e "humanismo" às custas do aumento da nossa exploração e carga de trabalho. Eles levam a fama; nós o trabalho dobrado, que, na maioria das vezes, é formal, porque é humanamente impossível dar conta de uma turma e, ainda por cima, pensar com qualidade as atividades, mais a integração e a correção de cada avaliação.
Eis aí o paralelo entre a "educação inclusiva" e a mais-valia relativa: para Marx, a mais-valia relativa ocorre quando o capitalista aumenta a produtividade dos trabalhadores, geralmente por meio de inovações tecnológicas, sem elevar o salário. Isso permite que, em um mesmo período, o trabalhador produza mais, gerando mais valor que será apropriado pelo capitalista.
Certamente existem limitações para essa analogia, mas ainda assim é válida. Nem os professores produzem mais-valia, nem os alunos especiais são mercadorias.
Além do quê, não se trata prioritariamente de questão salarial, ainda que o mínimo seja pagar mais por cada inclusão, já que demanda mais trabalho. No entanto, mesmo que houvesse aumento salarial, a questão não se resolveria, dado que o sistema educacional brasileiro vive em crise permanente. Portanto, trata-se, sobretudo, das condições de trabalho.
Por que as editoras que ganham rios de dinheiro com livros didáticos que muitas vezes são superfaturados e, em outros casos, como na SMED do MDB de Sebastião Melo, são usados para caixa 2, não produzem materiais adaptados para todos os tipos de transtornos e deficiências?
Os monitores podiam ser instruídos a usá-los e nós apenas supervisionaríamos e mostraríamos os assuntos que abordaríamos. O MEC, as secretarias estaduais e municipais de educação, além dos "gestores" das escolas privadas, sabem muito bem quais são os conteúdos de todas as matérias em cada série, poderiam, portanto, facilitar e colaborar com o nosso trabalho.
Então, na realidade, o problema não seria falta de planejamento e vontade política de governos e "gestores"? Por acaso eles não sabem como estão difíceis as condições de ensino e aprendizado nas nossas escolas, achando que é — literalmente — só depositar mais alunos nas salas de aula?
Eles sabem...
E o problema não termina aí: não há reuniões pedagógicas regulares e suficientes que deem conta das demandas — o que seria uma exigência mínima. Tampouco há planejamento e preocupação real em resolver estes problemas. Sequer há reuniões pedagógicas produtivas e livres para as demandas das turmas regulares.
Os sindicatos dos magistérios também não falam nada a respeito, nem se preocupam com tais problemas que tem tomado cada vez mais o caráter de cobranças arbitrárias e autoritárias sobre os professores. Só sabem formar reivindicações em torno do salário, o que é muito importante, mas nitidamente insuficiente (e, quando torna-se um ramerrão, fica contraproducente). As condições de trabalho cada vez mais precárias pela falta de estrutura, calor, frio e cobranças baseadas no assédio moral também vão nos adoecendo e nos empobrecendo de diversas outras maneiras.
Assim, vivemos no dia a dia entre o estresse das pressões de governos e direções/supervisões, a omissão dos sindicatos nas questões diárias e as ficções a que muitas vezes somos obrigados a recorrer, por bem ou por mal...