quarta-feira, 10 de novembro de 2021

Linguística saussureana e o “êxtase” no erotismo feminino de Anaïs Nin

ÊXTASE. Para a escritora de literatura erótica, Anaïs Nin (1903-1977) – nascida na França e inserida no círculo de produção literária norte-americano, ao lado de um dos maiores escritores de literatura pornográfica do século XX (Henry Miller) — o êxtase, em paráfrase, nada mais é, do que o momento de conexão (na mulher) entre o útero e o coração quando se fundem em um mix de prazer e amor.  Sensação forte, e rara que se espalha como ondas elétricas pelo corpo. Além disso, seu significado é definido por alguns dicionários como um estado emocional em que um indivíduo entra em transe com a intensificação de vários sentimentos, como o prazer, a alegria, o medo. É, ainda, uma palavra utilizada por muitas pessoas para descrever o ápice de uma relação sexual ocidental: o orgasmo.

Tomando essa palavra, que tenta traduzir o quase intraduzível como exemplo e partindo da teoria linguística formulada por Ferdinand Saussure (1857-1913) e expressa por seus colaboradores e alunos no livro Curso de linguística geral, podemos responder as duas seguintes questões: O que é um signo linguístico? Quais são os conceitos de significado e significante?

O signo, aqui, é diferente de uma ideia generalizada, não é simplesmente a “palavra”. Para Saussure, o signo linguístico é uma entidade psíquica constituída de duas faces: a imagem acústica e o conceito. A imagem acústica é som que não é pronunciado no campo físico propriamente dito, mas no campo psíquico, ou seja, interiormente. É o que ele chama de significante. No exemplo acima, a leitura interiorizada que fazemos da palavra “êxtase”, seu som, que não é um som na realidade exterior, é a imagem acústica que constitui o signo. Já o conceito de um signo linguístico é um “fato de consciência”. É a definição. Saussure o chama de significado. No exemplo acima, a explicação, aqui parafraseada, da autora sobre o que seria esse sentimento é o seu significado específico. Os conceitos expressos, tanto pelo dicionário, quanto pela autora são os significados possíveis para descrever o que essa palavra representa.

Há ainda, duas características importantes sobre o signo linguístico segundo o autor. Uma delas é a ausência de causa lógica ou natural para a interligação de significante e significado, que foi chamada de arbitrariedade. É, com isso, uma relação arbitrária. Essa proposta que surge como uma divergência à ideia da convencionalidade (convenção), defendida por W. D. Whitney (1827-1894). Sendo assim, na teoria saussureana, não se tem uma explicação lógica sobre o porquê de ser a palavra “êxtase”, com essa imagem acústica, a representar esse sentimento humano designado por esse conceito. Por isso, se diz que a relação é imotivada, sem motivações. Além disso, outra característica importante dos signos é o caráter linear do significante dada a impossibilidade de reprodução de duas palavras ao mesmo tempo, seja no meio físico, seja no psíquico, dada a sua natureza acústica. Esses são os principais aspectos dos signos linguísticos. 

De forma sintética pode-se dizer que o signo linguístico possui duas partes principais: a imagem acústica (= significante) e o conceito (= significado). Que a relação entre ambas as partes é arbitrária. E que o significante tem caráter linear. O significante da palavra “êxtase” é seu som mental produzido durante a leitura. E o conceito é o significado como costuma aparecer nos dicionários ou nas descrições literárias consideradas por cada autor ou autora que desenvolve o tema. No exemplo abordado, o signo tem seu conceito elaborado de forma íntima e profunda sob a perspectiva dessa artista, Anais Nin, que foi uma das pioneiras na história a escrever sobre o tema do erotismo por um viés feminino e encantador: de quem usa sua sensibilidade e fluidez como força, abrindo caminhos e possibilidades às futuras gerações.



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