A mais primordial liberdade de imprensa
consiste em ela não ser um negócio.
(Karl Marx)
consiste em ela não ser um negócio.
(Karl Marx)
A grande mídia atingiu uma enorme influência
social. Seus tentáculos se estendem por diversas tecnologias: TV, rádio,
internet, jornais impressos, revistas, celulares, aplicativos. Segundo os
teóricos da burguesia, vivemos a era da “informação”, da globalização e da
“radicalização dos meios de informação”. Esta afirmação, por não ter um
contraponto, é aceita por muitos acriticamente. A globalização não passa de um
eufemismo para esconder o poder do imperialismo e a submissão dos países
neocoloniais a ele. Vivemos a etapa de degeneração do capitalismo há pelo menos
um século, sofrendo com todas as suas consequências. O aumento da barbárie social
em todos os países do mundo é evidente, apesar do discurso fantasioso de
“democracia”, “globalização” e “aumento da informação”.
A relativa facilidade com que sabemos de fatos
ocorridos do outro lado do mundo quando vemos fotos, imagens, vídeos, dá a
impressão de que isso é verdade. Os meios de comunicação atuais realmente
tornaram possível a rapidez da informação, mas isso não quer dizer que ela
esteja livre da manipulação e da censura. Em alguns casos influencia
diretamente movimentos golpistas (militares, fascistas) e desvirtua movimentos
populares. Seu poder ideológico é incomparável. Nem reis, imperadores e a
Igreja medieval dispunham de tantas facilidades para manipular a mente e a
opinião de milhões como o grande capital midiático dispõe hoje. A grande mídia
em geral, e a TV em particular, entram como um elo fundamental na relação de
dominação atual da burguesia sobre o proletariado. É mais um “avanço
tecnológico” utilizado a serviço da exploração, do embrutecimento, da
ignorância e do obscurantismo religioso.
Por tudo isso, para a vanguarda proletária é
questão de vida ou morte saber fazer a leitura das entrelinhas da mídia
burguesa através de uma ótica de independência de classe, bem como entender os
seus métodos de manipulação, a sua dinâmica de atuação, a sua lógica de classe
e as suas estruturas econômicas e políticas.
Os
gigantescos monopólios empresariais da grande mídia
Em todos os países do mundo – com exceção das
reminiscências do stalinismo, como é o caso da Coréia do Norte –, a mídia
exerce um poder avassalador, possuindo, muitas vezes, maior poder que os
governos. Divulga e abafa escândalos de corrupção de acordo com suas
conveniências e aliados, e dá destaque a determinados fatos quando lhe convém. Isto
se passa desta forma porque as principais empresas de comunicação são grandes
monopólios de TVs, jornais, rádio, portais de internet, revistas, etc. –
resultado de um processo crescente de concentração de propriedade, tecnologia e
capital. Elas não funcionam de acordo com as necessidades sociais de
comunicação e informação públicas, mas com os interesses privados, da sua
publicidade política e empresarial, sempre visando o lucro e à preservação da
ordem social capitalista. É o capitalismo que possibilita este império das
“comunicações” e o monopólio que dá o pleno poder de manipular as opiniões e os
interesses públicos. Os trabalhadores, dentro desta ordem, não têm a menor
possibilidade de influir sobre os programas, a grade de programação e o teor
das notícias veiculadas diariamente em jornais e telejornais.
Após a Segunda Guerra Mundial, com a consolidação
da hegemonia do imperialismo norte americano sobre o mundo, as grandes empresas
de comunicação formaram-se e fortaleceram-se como gigantescos monopólios. Foram
elas que deram origem ao que se chama de “grande mídia”, que tem o poder de
censurar ou abafar informações inconvenientes à ela própria e à manutenção do
sistema, bem como a possibilidade de tornar verdade qualquer absurdo e
justificável qualquer injustiça, utilizando-se do método da repetição e aproveitando-se
da facilidade com que entra nas casas e na mente do povo pobre. Goza de um
enganoso prestígio, criado ao longo dos anos, de que tudo o que fala e
dissemina é inquestionavelmente sério e verdadeiro. A casa mais miserável do
Brasil possui TV, mas não o hábito da leitura (sobretudo da “leitura das
entrelinhas”). Quem lê o mundo para o povo pobre, portanto, é a TV, e não ele
próprio, que olha o mundo pela ótica das emissoras. Em síntese, podemos dizer
que a grande mídia tem como principal finalidade o controle ideológico das
massas populares para manter e sustentar o capitalismo, sistema do qual depende,
ainda que encha inúmeros editoriais falando em “democracia” e “liberdade de
imprensa”.
Todos os meios de comunicação que surgiram com o
desenvolvimento das tecnologias de informação – TV, rádio, cinema, internet –
foram utilizados pelo capitalismo para a criação de uma “opinião pública” com a
finalidade de sustentar a ordem social vigente. É do surgimento dessas grandes
empresas que derivam a chamada “indústria cultural”, também dominada e
controlada pelo imperialismo e pelas burguesias dos países neocoloniais. A
indústria cultural produz desde os filmes políticos hollywoodianos, até as
novelas brasileiras (chamadas eufemisticamente de “fábrica de sonhos”) e,
também, a “indústria das notícias” dos telejornais, que seguem todos
praticamente a mesma linha editorial. A hegemonia ideológica desta “indústria
cultural” é burguesa, ainda que escassamente se encontre boas e isentas produções
artísticas nestes meios.
Cabe destacar que, em um curto período, o mercado da mídia global passou a ser dominado por 7 multinacionais: Disney, AOL-Time Warner, Sony, News Corporation, Viacom, Vivendi e Bertelsmann. Há 15 anos atrás, nenhuma dessas empresas existia na sua forma atual, enquanto que hoje elas compõem o grupo das 300 maiores empresas não financeiras do mundo.
Cabe destacar que, em um curto período, o mercado da mídia global passou a ser dominado por 7 multinacionais: Disney, AOL-Time Warner, Sony, News Corporation, Viacom, Vivendi e Bertelsmann. Há 15 anos atrás, nenhuma dessas empresas existia na sua forma atual, enquanto que hoje elas compõem o grupo das 300 maiores empresas não financeiras do mundo.
As
grandes empresas privadas de comunicação no Brasil
O surgimento dos grandes monopólios de comunicação
no Brasil remonta a década de 1950 e 1960. Juscelino Kubtscheck (JK) escancarou
a economia brasileira às multinacionais imperialistas, o que fez a dívida
externa explodir, mas permitiu a livre instalação da indústria imperialista. A
TV invadiu o Brasil junto com a indústria dos eletrodomésticos, arrasando de
vez com as ilusões dos herdeiros do varguismo de realizar uma industrialização
nacionalista. Porém, foi com a ditadura militar que o sistema de comunicação se
instalou oficialmente e se espalhou por todo o país. A atual mídia brasileira é
filha legítima da ditadura militar. Foi ela que levou a cabo o projeto de
“integração nacional” dos militares. O Estado Novo varguista, com a sua Voz do Brasil no rádio, não foi tão
eficiente em criar uma identidade nacional como a Rede Globo.
É desta aberração – chamada de “liberdade de
imprensa” e de “mercado” – que surgiu o monopólio de apenas 7 famílias sobre
90% dos canais de comunicação de massas no Brasil. São elas: Rede Globo
(Marinho – dividindo sua hegemonia com os Sirotsky através da RBS, no sul),
Band (Saad), SBT (Abravanel), Folha (Frias), Abril (Civita), Record (Macedo) e RedeTV
(Carvalho). As duas últimas emissoras surgiram mais recentemente, mas nem por
isso representam pluralidade de concepções dentro de uma suposta “liberdade de
imprensa”. Cada uma dessas empresas, além de ligadas ao imperialismo direta ou
indiretamente, possuem outros tantos canais de TV fechada, portais de internet,
editoras e jornais impressos. Contudo, a hegemonia do mercado de comunicação
ainda pertence a Rede Globo. Durante a década de 1960, frente a crise das
emissoras pioneiras em TV no Brasil – Tupi, Excelsior, Continental, Rio – , a
recém fundada TV Globo, do grupo de Roberto Marinho, colocou a sua nova
infra-estrutura a serviço dos interesses do governo militar[1].
Evidentemente que não assumiu isso abertamente e a sua auto crítica recente,
feita por Willian Bonner no Jornal Nacional, soa cínica e ardilosa, pois visa
limpar sua imagem para continuar cumprindo sorrateiramente o mesmo papel no
“regime democrático”.
Refletindo as características da época
imperialista, a grande mídia brasileira se desenvolve no sentido da
concentração de propriedade dos pequenos grupos pelos grandes monopólios. É
ilustrativo a história da Rede Globo: “Antes
da chegada dos militares ao poder, a empresa possuía o jornal O Globo, uma
estação de rádio, uma editora de revistas em quadrinho e instalava um canal de
televisão. Vinte anos depois, o grupo controlava a primeira rede de televisão,
com cinco estações emissoras e 45 afiliadas; tornara-se o primeiro grupo de
imprensa feminina; o segundo de revistas em quadrinhos; entrava na edição de
livros, após a compra da editora Globo, uma das mais prestigiosas do país. Esse
grupo controlava também 83% da publicidade brasileira, 90% da televisão Monte
Carlo, comprada ao grupo italiano RMC, e tinha 30% do mercado brasileiro de disco
com o selo Som Livre e a empresa Sigla; possuía também a empresa de videoclip
Globoteca, bem como 17 estações de rádio, o jornal O Globo, [...] e,
finalmente, empresas pecuárias como 70 mil hectares, exploração de uma mina de
ouro com a British Petroleum, um banco de investimentos, empresas da BTP, de
serviços de telecomunicações por satélite e a filial brasileira do grupo
eletrônico japonês NEC. O grupo Globo empregava 15.400 pessoas e tinha negócios
anuais avaliados em 800 milhões de dólares”[2].
Assim, fica claro o motivo da árdua luta
anti-comunista da grande mídia brasileira – em particular da Rede Globo – e da
sua campanha permanente contra os movimentos sociais. Como uma empresa que
detém tamanha concentração de capital pode ser “imparcial” no que tange a luta
de classes e ao capitalismo? Poderia ela passar alguma notícia de forma
verdadeiramente “imparcial”?
Ainda é preciso dizer que a Rede Globo expressa o
que acontece com todos os monopólios empresariais da grande mídia. Seu caso é o
mais evidente porque está no topo da pirâmide. Enganam-se aqueles que pensam
que o único problema é a Rede Globo, preocupando-se apenas em denunciá-la. O
problema central é o capitalismo que funciona unicamente através deste tipo de
concentração de propriedade. Todas as demais emissoras almejam ser a Rede Globo
ou dominar a sua parcela de mercado. A Rede Record e a BBC de Londres, por
exemplo, não são melhores do que a Globo. Querem apenas abocanhar o seu
mercado. A briga entre elas, portanto, não é para esclarecer os trabalhadores,
mas pela liderança do poderoso mercado proporcionado pela grande mídia.
Grande mídia e neoliberalismo
Como se sabe, as grandes empresas midiáticas são árduas defensoras do neoliberalismo, pois desta política econômica depende a sua existência enquanto monopólio e a sua “evolução tecnológica”. RBS, Globo e Folha de SP foram algumas das empresas que se engajaram na compra de estatais privatizadas, tais como a Telesp e a CRT. A mudança de regime cambial iniciada com o plano real, na esteira da aplicação do neoliberalismo, possibilitou que muitas destas empresas contraíssem empréstimos para investir em tecnologia, importando-a em detrimento da criação de tecnologia nacional. Uma vez que são empresas ligadas ao imperialismo, são visceralmente anti-nacionais, pouco se importando com o endividamento público e com a dependência tecnológica do exterior.
As Organizações Globo respondiam por 60% do endividamento total do setor, devendo cerca de R$10 bilhões. Na busca por um novo parque gráfico editorial e pela instalação de um provedor de internet, o Grupo Folha de SP alcançou uma dívida de R$ 290 milhões, enquanto que o Grupo O Estado de São Paulo chegou a cifra de R$384 milhões e o Grupo RBS a marca de R$ 125 milhões. A maior parte das dívidas dos dois últimos grupos se deu em razão do seu envolvimento na compra das empresas públicas de telefonia privatizadas. Estes são alguns dos motivos que levam as grandes emissoras a defenderem as privatizações, o neoliberalismo e as dívidas externa e interna, enquanto vendem-se como “imparciais” atrás dos discursos de “modernização” e “melhoramento dos serviços públicos”.
Grande mídia e neoliberalismo
Como se sabe, as grandes empresas midiáticas são árduas defensoras do neoliberalismo, pois desta política econômica depende a sua existência enquanto monopólio e a sua “evolução tecnológica”. RBS, Globo e Folha de SP foram algumas das empresas que se engajaram na compra de estatais privatizadas, tais como a Telesp e a CRT. A mudança de regime cambial iniciada com o plano real, na esteira da aplicação do neoliberalismo, possibilitou que muitas destas empresas contraíssem empréstimos para investir em tecnologia, importando-a em detrimento da criação de tecnologia nacional. Uma vez que são empresas ligadas ao imperialismo, são visceralmente anti-nacionais, pouco se importando com o endividamento público e com a dependência tecnológica do exterior.
As Organizações Globo respondiam por 60% do endividamento total do setor, devendo cerca de R$10 bilhões. Na busca por um novo parque gráfico editorial e pela instalação de um provedor de internet, o Grupo Folha de SP alcançou uma dívida de R$ 290 milhões, enquanto que o Grupo O Estado de São Paulo chegou a cifra de R$384 milhões e o Grupo RBS a marca de R$ 125 milhões. A maior parte das dívidas dos dois últimos grupos se deu em razão do seu envolvimento na compra das empresas públicas de telefonia privatizadas. Estes são alguns dos motivos que levam as grandes emissoras a defenderem as privatizações, o neoliberalismo e as dívidas externa e interna, enquanto vendem-se como “imparciais” atrás dos discursos de “modernização” e “melhoramento dos serviços públicos”.
Grande
mídia X mídias alternativas e redes sociais: a liberdade de imprensa é apenas
para a burguesia
A despeito da grande importância da ascensão de
outros meios de comunicação alternativos (blogs, sites, facebook, twitter,
youtube, rádios comunitárias, etc.), a TV ainda é o meio de influência mais
poderoso, utilizada como forma de doutrinação política, econômica, filosófica e
científica, segundo a visão de classe da burguesia. Ver TV não exige esforço de
leitura, nem selecionar vídeos. Leva vantagem sobre o rádio porque emite
imagens e efeitos especiais. Toda a leitura política da realidade já é feita
pela ótica das emissoras. É verdade que existe a possibilidade de trocar de
canal; mas também é verdade que a programação e linha editorial dos noticiários
das diversas emissoras não diferem quase nada entre si.
Além disso, a TV está presente em praticamente
todos os lares brasileiros (incluindo os mais humildes), sendo um aparelho que
pode ser adquirido com relativa facilidade. A declaração de Roberto Irineu
Marinho (herdeiro das organizações Globo) é elucidativo: “Compartilhamos da intimidade dos brasileiros, entramos em suas casas.
Somos mais um membro da família, do qual os brasileiros se orgulham, conosco se
emocionam, às vezes criticam, dividem suas queixas, aprendem e se informam”[3].
As demais emissoras têm, em maior ou menor medida, estes mesmo privilégios. E,
conforme foi explanado ao longo do texto, sabemos que tipo de “informação” elas
transmitem. Por isso, não é casual que o controle de concessão de TV no Brasil
e no mundo seja controlado com mãos de ferro pelo Estado. Os movimentos
sociais, lutas sindicais e organizações políticas de trabalhadores
independentes ficam restritos às redes sociais e às chamadas “mídias
alternativas”, que tem infinitamente menos capacidade de influência do que a
TV, rádio, jornais e grandes portais de internet.
Sendo assim, ainda que as mídias alternativas
sejam importantes, não são e nem podem ser a solução para o problema da
manipulação da grande mídia, como propõe implícita ou explicitamente muitos
setores da esquerda. A própria burguesia, através da sua mídia, divulga o
aparecimento das mídias alternativas como expressão de sua “liberdade de
imprensa”. Mas isso é uma ilusão! A TV esmaga a mídia alternativa e tem total
supremacia sobre ela, podendo distorcer ou mesmo anular qualquer tipo de debate
ou denúncia feita através das mídias alternativas. O que, evidentemente, não
invalida a importância de utilizá-las, sobretudo para divulgar o programa socialista.
A nova
forma de censura
É constantemente divulgado pela grande mídia (mas
também por outros meios, como o acadêmico), que após o fim da ditadura militar
a censura sobre a imprensa e os meios de comunicação cessou. Isto é um erro que
distorce o que realmente se passa. A censura não acabou, apenas mudou de forma
e de intensidade. Ela não é mais feita por um governo militar, mas por um
truste entre os próprios monopólios de comunicação que imperam na grande mídia,
com o apoio semi-consentido dos governos “democráticos”. É semi-consentido
porque muitas vezes estas empresas entram em conflito com os governos que fogem
eventualmente aos seus interesses (casos específicos sobre isso podem ser
vistos no Brasil com a Globo e suas sucursais; na Venezuela com a Venevisión e
a RCTV; na Argentina com o Clarin – que tem ligações com a Veja do Brasil –; e
no México com a Televisa) e, por isso mesmo, são criticados pontualmente por
estes mesmos governos.
A grade de programação e a linha editorial
jornalística são decididas pela alta cúpula dos grandes monopólios de
comunicação. As notícias e posições políticas expressas através da grande mídia
visam criar um consenso em torno das posições da burguesia e uma condenação aos
movimentos independentes dos trabalhadores, sobretudo quando se trata de greve
ou de movimentos sociais contestatórios. Só é permitido expressar posições que
estejam na lógica da ordem social, da democracia burguesa e da sua institucionalidade.
Quando ocorre algum tipo de entrevista ou de debate, geralmente são expressas através
de militantes de um partido reformista-burguês ou de um burocrata sindical, que
propaga posições reformistas ou burocráticas. Isto é, posições que não destoam
da lógica geral da manutenção da sociedade burguesa. Esta censura não fica
clara para a grande massa da população, que nos momentos de calmaria não
intervém na luta sindical e política; e que não consegue enxergar a sutileza
destas manipulações. Muitos intelectuais burgueses e reformistas ajudam a
obscurecê-la com discursos relativistas e de desmoralização da esquerda.
A pesquisadora da mídia “Tascher (1992) relata que, à época da censura imposta pelo regime
militar, a agência de notícias do Grupo Folhas foi utilizada para centralizar a
autocensura em todos os jornais do grupo”[4].
Com o fim da ditadura militar e o início do “regime democrático”, esta
centralização passou a ser exercida pelos monopólios de comunicação e, dentro
deste, pelas empresas mais poderosas, como a Rede Globo e as agências de
fachada que funcionam como trustes. Supostamente baseado em um critério
democrático, a nova censura se exerce através da desculpa do mercado e do ibope,
que seleciona programas e notícias conforme a procura ou justifica a sua
exclusão.
Cabe destacar ainda o escândalo na Inglaterra que
envolveu o dono de um destes monopólios de comunicação internacional, Rupert
Murdock. Em julho de 2011, Murdoch enfrentou acusações de que suas empresas,
incluindo o jornal News of the World,
de propriedade da News Corporation,
se utilizavam da prática ilegal de grampos telefônicos, em telefones fixos e
celulares da realeza, de celebridades e até de pessoas comuns, para obter
notícias, caracterizando violação de privacidade. O que garante que esta mesma
prática não possa ocorrer por qualquer outra destas grandes empresas, incluindo
empresas brasileiras? Se trata, obviamente, não apenas de uma forma de “obter
notícias”, mas para espionar e se antecipar a qualquer debate ou posição
política dos movimentos sociais, organizações de esquerda e sindicatos. Segundo
relatos de Edward Snowden, outras empresas são suspeitas de proceder da mesma
forma; são elas: Apple, Google e Facebook (dentre outras).
Faz parte da censura a infiltração ideológica nos
discursos da esquerda. Quando a grande mídia não consegue impedir uma posição
política de se expressar, ela procura infiltrá-la para distorcê-la, jogando
sombras no debate para dificultar a compreensão do grande público. A academia
burguesa faz o mesmo com o marxismo. A distorção teórica e política não se
restringe apenas aos noticiários, mas se espalha para as novelas, programas de
auditório, de humor, de variedades e de debates. Nestes, a manipulação
ideológica se torna menos explícita, mais casual e sutil. Forma-se assim, uma
cadeia assustadora de lavagem cerebral sem contraponto, que somente as futuras
gerações de revolucionários poderão reabilitar.
A liberdade de imprensa e de pensamento dentro da
grande mídia não existe. As posições revolucionárias e da real indignação
social (como foi o caso dos operários das obras do PAC e tantas outras greves
radicalizadas pelo país) são sutilmente excluídas. Ocorre uma campanha surda,
ardilosa e capciosa, de difamação e de transformação dos lutadores sociais em inimigos
da paz e da ordem social. Segundo os telejornais tudo estaria bem (ou quase
bom), mas os sindicalistas e “vândalos” de esquerda perturbam o bom andamento
da sociedade. Quando acontece o acaso de um militante revolucionário ser
entrevistado, suas posições são abafadas pelo pouco tempo cedido a ele frente à
repetição exaustiva das posições oficiais, ou mesmo impedidas de ir ao ar com
diversos tipos de desculpas de “edição” e “tempo” (como já aconteceu em algumas
entrevistas de greve). Um caso absurdo de censura se deu com a chapa da
corrente de oposição à direção do CPERS – Construção pela Base – nas eleições
sindicais de 2014, quando o principal jornal do Rio Grande do Sul, por conhecer
suas posições políticas revolucionárias, simplesmente ignorou a sua existência
até o exato dia das eleições[5].
A grande mídia não reflete em absolutamente nada
as correntes de opinião dos trabalhadores, sobretudo os organizados e,
evidentemente, os da esquerda revolucionária. Quando acontece a raridade de
entrevistar um trabalhador em greve ou chamá-lo para um debate em rede de TV, o
seleciona a dedo nos altos extratos da burocracia sindical ou partidária (PT,
PCdoB, PSOL, PSTU, PCB, PCO). Impera na TV a opinião da esquerda reformista,
que está adaptada política e teoricamente à democracia burguesa, não se
constituindo, por isso mesmo, em uma ameaça para a ordem social capitalista.
Pelo contrário, ajuda a dar um “verniz” de democracia que ilude milhares de
pessoas.
Mas por que supostamente faltaria tempo na TV para
debates relevantes sobre os movimentos sociais, greves, ocupações e a luta dos
trabalhadores? Dentre outras formas, esta censura seletiva se dá pela ocupação
do tempo da grade de programação com anúncios publicitários, por programas
idiotizantes e semelhantes no fundamental – independentemente da emissora –,
que ocupam praticamente todo o tempo útil da TV e relegam às brechas ou à
censura total o debate político e os programas que interessam aos trabalhadores.
A grade
de programação
A grande mídia vende a sua aparente variedade de
programas e opções de canais como sinônimo de “liberdade de imprensa”. Contudo,
se submetermos a grade de programação a um olhar mais crítico, veremos que ela
é essencialmente igual e cumpre a mesma função já desnudada.
a) Telejornais e jornais impressos de grande circulação: Todo o telejornalismo da grande mídia é pausterizado e padronizado. Fingem imparcialidade. Independentemente de emissora, todos os telejornais dão as notícias da mesma maneira tendenciosa e sob o mesmo enfoque editorial. A notícia transformou-se em uma mercadoria, que para ser mais facilmente consumida, precisa passar por um processo de industrialização e de marketing, que tem a preocupação em fazer um produto mais digestivo, acessível e sedutor, pronto para ser consumido pelo senso comum e, sobretudo, para alimentá-lo e mantê-lo. Esta preocupação com telespectadores e leitores procura não deixar de agradar nenhum senso comum dos segmentos do mercado consumidor. Quanto maior for a quantidade de telespectadores e leitores de um telejornal e jornal, melhores serão as condições das emissoras de “se vender” ao mercado publicitário, também interessado em um público amplo e diversificado. Porém, naturalmente interessa qualquer ibope, menos o que possa, de alguma forma, se voltar contra as bases do capitalismo. As grandes empresas – e os monopólios de comunicação da grande mídia, em particular – despendem vultuosos capitais para abafar os assuntos que lhe são incômodos; e para isso não poupam despesas.
Segundo a lógica deste “jornalismo imparcial”, uma
greve sempre causa prejuízos à população, mas nunca se coloca em enfoque o
verdadeiro prejuízo causado às categorias profissionais pela exploração do
sistema (arrocho e defasagem salarial, destruição das condições de trabalho,
aumento da precarização dos trabalhadores e da sua miséria). A dívida externa e
o superávit primário não causariam mais prejuízos ao povo do que a greve de uma
categoria? Uma greve causa mais prejuízos aos patrões e aos governos ou ao
povo? Categorias de trabalhadores do setor privado em greve são geralmente
ignoradas (quando se trata de greve dos operários das grandes montadoras a
notícia é quase um flash – quem viu na TV cobertura da greve na GM, Volkswagen
ou na CAFF?). Ocorre uma censura para que a patronal possa esmagar os
trabalhadores da maneira mais rápida e eficaz possível (isso se passou com os
operários das obras do PAC, onde existiu caso de assassinato de trabalhadores e
a mídia nada falou).
Nas questões internacionais o jornalismo da grande
mídia se alinha criminosamente ao imperialismo (em especial ao ianque). Estados
e países inimigos dos EUA são tratados como inimigos do “povo brasileiro” e do
“Ocidente”. Utilizam-se da mesma nomenclatura e expressões, tais como
“terroristas”; “comunismo” como sinônimo de “ditadura”; “violação dos direitos
humanos” quando se trata de uma luta contra a democracia burguesa ou contra os
interesses do grande capital. Aliás, a grande mídia tem trabalhado
incansavelmente no sentido de associar automaticamente “capitalismo” à
“democracia” e “comunismo” à “ditadura”. Apenas os aliados circunstanciais e
subordinados politicamente são “democráticos” e apresentados como “amigos”,
mesmo que sejam genocidas de povos e torturadores. Rotular e usar os mesmos
termos lingüísticos faz parte das estratégias de dominação política.
O jornalismo da grande mídia noticiou em uníssono
que os ataques militares genocidas do exército israelense contra o povo
palestino desarmado e cercado era uma “guerra” e não um genocídio. Deu o suporte
ideológico para o massacre do sionismo contra o povo palestino. Da mesma forma,
noticiou que o massacre da polícia paranaense contra os professores estaduais
desarmados, ocorrido em 29 de abril de 2015, foi um “confronto”. Deu amplo
destaque para as justificativas do governador fascista, Beto Richa (do PSDB), e
não entrevistou professores da base da categoria que foram espancados.
Existem inúmeros meios de fingir um “jornalismo
imparcial” para os trabalhadores mais atrasados. Por exemplo: basta dar destaque
à justificativa de Israel de que o seu exército apenas responde ao “terrorismo
do Hamas” e abafar a verdadeira situação do povo palestino. Da mesma forma, se
esconde as verdadeiras questões em jogo sobre a previdência do Paraná, e se
justifica o massacre policial escondendo-se atrás da trágica tática dos “black blocs”,
que segundo as palavras do governador, amplamente disseminadas pela mídia,
“teriam começado a jogar pedras nos policiais”. Isso é uma inverdade
reconhecida até mesmo por setores da grande mídia (o cinegrafista da Band
mordido por um PitBull denunciou que não haviam black blocs naquela
manifestação). Como milhões de pessoas não participaram da manifestação no
Paraná e nem acompanharam pessoalmente a situação da Faixa de Gaza, o estrago
está feito e a manipulação consumada. A versão vencedora sempre será a dos
grandes monopólios de “comunicação”. Este método jornalístico se estende a outras
áreas sociais: dá a justificativa do governo ou dos patrões para não conceder
aumento salarial, ignorando ou minimizando as demais pautas de reivindicação
dos trabalhadores; demonstra apenas o lado maléfico dos criminosos, mas omite
toda a estrutura de desigualdade social.
Outro exemplo digno de menção se deu quando o novo
papa (Jorge Bergóglio) assumiu e foi acusado por inúmeros movimentos sociais de
ter apoiado a ditadura militar argentina. A grande mídia apresentou
“imparcialmente” as justificativas do Vaticano e ignorou a investigação dos
fundamentos daquelas acusações, mesmo sabendo que a Igreja enquanto instituição
apoiou e sustentou inúmeras ditaduras pelo mundo. Proceder dessa forma foi como
defender veladamente o novo papa, bem como servir de esteio para a Igreja
Católica, instituição que cumpriu e cumpre um papel muito similar ao da grande
mídia. Um episódio parecido se deu com o caso de Edward Snowden, que denunciou
o amplo esquema de espionagem global por parte do imperialismo norte-americano.
A abordagem da revista Época, da editora Globo, procura relativizar a gravidade
das denúncias, se escondendo “imparcialmente” atrás das declarações oficiais do
governo dos EUA: “A lei [de
espionagem] foi promulgada pelo
presidente George W. Bush logo após os atentados de 11 de setembro de 2001. Seu objetivo oficial era identificar
células terroristas. (...) ‘Acredito
que devemos combater o terrorismo e que devemos ter força contra nossos
inimigos’, afirmou [Rand Paul, senador republicano do Kentucky]. ‘Mas
não precisamos deixar de ser quem somos para derrotá-los”[6].
O primeiro negrito destaca a mentira de que o “objetivo oficial” era combater o
terrorismo; essa era, na verdade, a desculpa, como bem denunciou Snowden. O
segundo negrito traz a tona a hipocrisia da declaração do Partido Republicano,
que tenta vender os EUA como defensor da “democracia” contra os terroristas do
Oriente Médio. Segundo o que dá a entender, os EUA estariam perdendo seus
princípios no combate ao terrorismo. Tudo uma mentira deslavada disseminada
pela grande mídia: os EUA se utilizam de um terrorismo infinitamente mais
nefasto que o da Al Qaeda, o terrorismo de Estado. Mesmo com essa declaração
para tentar abrandar as denúncias de Snowden, a espionagem continua operando de
diversas formas, pois faz parte da natureza do imperialismo e da sua
necessidade de manutenção da “ordem social”. A grande mídia está repleta de reportagens
e citações sutis e “imparciais” como estas.
No caso da criminalização ou extradição de presos
ou perseguidos políticos a mídia sempre é contra os ativistas dos movimentos
sociais, como foi o episódio envolvendo Cesare Battisti, quando desencadeou uma
verdadeira campanha midiática que durou cerca de dois anos. Em contrapartida,
acoberta a não-extradição de banqueiros (Salvatore Cacciola), ditadores
(Alfredo Stroessner) e políticos burgueses. Da mesma forma, “imparcialmente”
faz terrorismo psicológico noticiando como destaque o corte de ponto de
grevistas pelos governos e a prisão de “vândalos” e “baderneiros” no que chama
de “excessos” dos movimentos sociais. O apoio da Rede Globo e demais órgãos da
imprensa burguesa (como o jornal Folha de S.Paulo) à ditadura militar foi
“resolvido” com uma cínica e curta autocrítica no ar (se é que aquilo pode se
chamar de autocrítica).
Seguindo as orientações da chamada “indústria de
notícias”, que é um braço da “indústria cultural”, todas as notícias são dadas
da mesma maneira superficial e/ou tendenciosa, sem procurar entrar nas suas
causas mais profundas. A maneira que a burguesia encontrou para prestar
“informações” sem comprometer os seus interesses foi justamente escondendo-se
atrás desta superficialidade, dando pequenos retoques tendenciosos que são
imperceptíveis ao senso comum. Trata-se da linguagem que procura atingir e
seduzir o maior número de leitores e telespectadores. Esta forma está
diretamente vinculada à produção de notícias e aos modelos de objetividade
importados. A linguagem jornalística é levada ao extremo da simplificação, a
ponto de retirar das notícias – cada vez mais breves e mais curtas – a
possibilidade de contextualização. Isso contribui para o empobrecimento da
interpretação dos fatos e da conjuntura. Esses fatores parecem suficientes para
comprovar o argumento da sujeição dos conteúdos jornalísticos à racionalidade
da organização industrial capitalista[7].
É importante destacar a forma como os jornalistas
são formados no Brasil (na verdade, seria mais correto dizer “deformados”). Em
cadeira da faculdade de jornalismo da Famecos (PUCRS) existem professores que colocam
como pauta principal e permanente a queda dos "regimes comunistas".
Não há uma única aula sem um ataque aberto ou dissimulado à esquerda. Certo
dia, o professor perguntou aos alunos se eles conheciam o CPERS[8].
Ninguém conhecia, a exceção de uma pessoa. Em seguida, perguntou: "em uma greve de professores quem vocês
devem entrevistar?". Silêncio absoluto! O professor respondeu: "É claro que os alunos, os principais
prejudicados pela greve; e o governo, que também é afetado". Em nenhum
momento ele falou que deveriam entrevistar um professor. É assim que se formam
as novas gerações de jornalistas para a “indústria da notícia” da grande mídia.
É preciso não esquecer ainda que ela utiliza a seu
favor a grandeza geográfica do país, abafando casos regionais de grande
repercussão, dando ênfase a temas secundários em suas afiliadas, priorizando
apenas o que convém ao grande capital. Os casos de corrupção são emblemáticos.
Quando se quer desgastar o governo se dá ênfase para determinadas coberturas,
como é o atual caso da “Operação Lava Jato”, que visa desestabilizar o governo
Dilma e o PT, não necessariamente para derrubá-lo, mas para quebrar qualquer
possibilidade de resistência à aplicação plena do programa neoliberal de
“ajustes”. Quando os governos do PT estavam em seus primeiros mandatos, a
grande mídia deu todo o suporte político para a frente popular atuar e frear o
movimento operário, divulgando suas “pesquisas de opinião” sobre a alta
popularidade de Lula e propagando a falácia da diminuição da pobreza e do
aumento numérico da classe média. Em outros casos, a atenção do público é
desviada para assuntos diversos, ainda que se fale rapidamente do escândalo de
corrupção (como foram os casos do governo FHC). Em nenhum desses casos as suas
reais causas são debatidas e desnudadas.
Atualmente tem se tornado comum a disputa pelo
número dos participantes dos atos de rua, numa grande manipulação por parte da
grande mídia para demonstrar como vazios os atos dos trabalhadores e como de
massas os atos da direita contra o governo. Usam os números da polícia contra
os apresentados pelos sindicatos. Da mesma forma, a grande mídia tem
“denunciado” sistematicamente o “corporativismo nos sindicatos”. Traduzindo
para uma linguagem proletária, isto significa a denúncia da burocracia sindical
e a sua utilização dos sindicatos como um bloco que se contrapõe, às vezes, aos
interesses imediatos da grande mídia. Como sabemos, a burocracia sindical é um
câncer que usurpa a direção dos sindicatos da verdadeira representação da sua
base. Contudo, esta crítica deve ser feita pelos trabalhadores conscientes, e
não pela grande mídia, até porque o corporativismo do conglomerado monopólico de
“comunicação” é infinitamente maior e mais influente.
Os comentaristas dos telejornais e jornais
impressos de grande circulação personificam todo o reacionarismo da oligarquia
brasileira. São colunas e mais colunas preenchidas pelas mesmas posições: umas
mais exaltadas (Arnaldo Jabor, Percival Puggina, Olavo de Carvalho, Paulo
Santana, Boris Casoy), outras mais brandas (LF Veríssimo, Túlio Millman, Zuenir
Ventura, Fernando Mitre). Entre umas e outras, emerge algum intelectual que não
ultrapassa os limites do reformismo mais rasteiro (Juremir Machado, Flávio
Tavares, Ricardo Boechat). Dada a repetição de notícias manipuladas e
comentários reacionários, quando surge uma voz que destoe um pouquinho, é
recebida com grande entusiasmo por setores da “esquerda”. O que, na verdade,
não passa de uma válvula de escape!
É bastante ilustrativo analisar o programa da
Band, chamado eufemisticamente de “Canal Livre”, abordando o tema da
terceirização, que estava para ser votado no Congresso Nacional e sofria forte
oposição da maioria da sociedade. Para debater o projeto de terceirização, foi
selecionado “Delphin Neto” (ex-ministro da economia da ditadura militar e guru
da direita). No programa de 26 de abril ele disse: “O problema das terceirizações é só sobre quem vai ficar com o imposto
sindical”; e acrescentou: “sindicato
+ política = corrupção”. Ou seja, sua atuação foi no sentido de facilitar a
aprovação do PL no Congresso e de confundir descaradamente o senso comum do povo,
utilizando-se para isso de preconceitos arraigados nestes setores mais
atrasados, como o ódio inconsciente contra as burocracias sindicais. Além
disso, reforçou o economicismo, afirmando diversas vezes que os sindicatos e,
consequentemente, os trabalhadores, não devem se meter em política. Este
preconceito, que é na verdade uma catástrofe, tem amplo eco nos setores mais
atrasados da classe trabalhadora, que atribuem as derrotas e traições da
burocracia sindical não ao capitalismo e aos seus efeitos, mas à participação
abstrata dos partidos políticos nos sindicatos. Os trechos desse “debate” foram
apresentados em diversos telejornais da emissora. Houve ainda um novo programa
sobre o tema em que foi levado um professor da USP que expressou exatamente as mesmas
posições só que de maneira diferente. Nenhuma posição contrária a estas foi
apresentada nestes espaços “livres”.
Os observadores um pouco mais atentos, críticos e
honestos, percebem sem grandes dificuldades a verdadeira campanha que o
jornalismo da grande mídia faz para sustentar as bandeiras políticas e
econômicas da burguesia nacional e do imperialismo. Há requintes de verdadeiras
campanhas surdas, repetidas como “tantras”.
***
O jornalismo esportivo, por sua vez, se centra
praticamente no futebol, dando ênfase quase que exclusiva ao clube dos 13. Foi
este tipo de jornalismo, repetido diariamente, que elegeu e transformou o
futebol como “paixão nacional”, ajudando a esconder a corrupção reinante nesse
meio (vide o caso da FIFA e da CBF). A paixão não é pela prática, mas por
acompanhar os grandes clubes, que movem bilhões de reais. As grandes emissoras,
como a Globo, além de deterem o monopólio da transmissão dos jogos, definem os
horários segundo as conveniências da sua grade de programação. Não há incentivo
pela prática esportiva como forma de disciplina e educação, mas apenas a
intenção de criar um verdadeiro fanatismo dos grandes clubes que serve como
catalisador do descontentamento social e dos problemas pessoais, sejam eles
descarregados através da catarse dos estádios de futebol ou atrás da tela da
TV. Não se trata de ser contra o esporte em si, mas contra a sua utilização
midiática para alienar, vender e idiotizar a população.
b) Programas sensacionalistas (de jornalismo policial e de variedades): tornou-se uma verdadeira “febre nacional” os programas policiais na grande mídia (Cidade Alerta, Brasil Urgente e Balanço Geral são alguns deles). Eles abordam principalmente os casos de mortes, assaltos, assassinatos, tráfico de drogas e, também, as falhas na prestação do serviço público (atraso de obras, descaso em hospitais, escolas, etc.); sobretudo retrata as grandes periferias e os grandes bolsões de miséria, onde vive gente sem perspectiva.
b) Programas sensacionalistas (de jornalismo policial e de variedades): tornou-se uma verdadeira “febre nacional” os programas policiais na grande mídia (Cidade Alerta, Brasil Urgente e Balanço Geral são alguns deles). Eles abordam principalmente os casos de mortes, assaltos, assassinatos, tráfico de drogas e, também, as falhas na prestação do serviço público (atraso de obras, descaso em hospitais, escolas, etc.); sobretudo retrata as grandes periferias e os grandes bolsões de miséria, onde vive gente sem perspectiva.
O jornalismo oficial (apresentado anteriormente) e
este “jornalismo” policial desenvolvem uma relação dúbia e cínica com o
público. Ao mesmo tempo em que defendem abertamente os projetos da burguesia
contra o povo (privatizações, planos de ajustes, austeridades; em suma: toda a
ordem social burguesa que domina, explora e oprime os trabalhadores), precisam
amaciá-lo, amansá-lo, bajulá-lo, fingir que lhe presta um serviço de utilidade
pública. Criticam os políticos, os projetos públicos que nunca terminam ou
sequer saem do papel, bem como a atitude de arbitrariedade para com os serviços
públicos. Na verdade, tudo isso é apenas uma válvula de escape para conseguir
audiência e aliviar a pressão do descontentamento social, pois a sua verdadeira
função é criminalizar a pobreza, apavorar a classe média com a barbárie do
submundo das periferias e facilitar a intervenção armada do Estado nas favelas,
onde impera uma verdadeira ditadura sobre o povo pobre. Essa campanha de
criminalização da periferia serve como uma forma de legalizar a ocupação
militar, como as UPPs no Rio de Janeiro, dentre outros lugares.
Não há dúvida que os crimes urbanos são bárbaros.
Denotam a completa falta de humanidade e de civilidade dos setores excluídos da
sociedade capitalista oficial. Porém, estes programas sensacionalistas nunca
debatem as raízes da criminalidade: desemprego, miséria, fome, prostituição, a
existência de inúmeras favelas que, em pleno século 21, não dispõem sequer de
saneamento básico e, em alguns casos, de luz elétrica. Apenas culpabilizam os
pobres por serem violentos, como se a sua realidade social não tivesse nada a
ver com a criminalidade reinante. Estes programas não querem discutir
seriamente as raízes da criminalidade porque, no fundo, não podem desnudar as
reais causas que a criam: o capitalismo; pois isso iria contra a fonte de
sustento da sua própria emissora e, consequentemente, contra si mesmo.
c) Programa de fofocas, de crises familiares, de “humor” e idiotizantes: Como o capitalismo não pode propiciar um lazer edificante aos trabalhadores, uma vez que isso poderia quebrar a corrente da alienação que proporciona o lucro e a ordem social burguesa, investe em programas que reforçam e aprofundam os instintos animais da população. Uma verdadeira onda de programas que abordam a vida de “famosos” se proliferou assustadoramente nos últimos anos, disseminando as mesquinharias mais insignificantes da vida dos famosos no sentido de prender a atenção do telespectador comum. Horas de ócio são perdidos na frente da TV, vendo programas deste nível. Faz parte da lógica do sistema manter um showbusiness, com nomes de cantores, jogadores e atores da moda, que mudam depois de algum tempo; mas a lógica geral nunca é quebrada.
c) Programa de fofocas, de crises familiares, de “humor” e idiotizantes: Como o capitalismo não pode propiciar um lazer edificante aos trabalhadores, uma vez que isso poderia quebrar a corrente da alienação que proporciona o lucro e a ordem social burguesa, investe em programas que reforçam e aprofundam os instintos animais da população. Uma verdadeira onda de programas que abordam a vida de “famosos” se proliferou assustadoramente nos últimos anos, disseminando as mesquinharias mais insignificantes da vida dos famosos no sentido de prender a atenção do telespectador comum. Horas de ócio são perdidos na frente da TV, vendo programas deste nível. Faz parte da lógica do sistema manter um showbusiness, com nomes de cantores, jogadores e atores da moda, que mudam depois de algum tempo; mas a lógica geral nunca é quebrada.
Como se não bastasse o capitalismo proporcionar a
desfragmentação familiar, obrigando crianças e jovens sem pais e sem
perspectivas de futuro a trabalhar como mão de obra barata muito antes do seu
amadurecimento emocional, a grande mídia passou a se aproveitar das brigas
familiares que, geralmente, tem como pano de fundo uma disputa econômica
(pagamento de pensão, alugueis, cestas básicas, etc.) ou traições conjugais. A
maior parte destas famílias são miseráveis, cheia de carências e dificuldades
econômicas e emocionais. A briga de vizinhos que gera a fofoquinha mais
desprezível no bairro, na rua, no boteco da esquina, que não pode ser
acompanhada em razão de um certo “incômodo moral”, agora pode ser visto de
camarote pela TV, seja no “Casos de Família”, “Teste de Fidelidade” ou
“Programa do Ratinho”, com o seu nefasto e deprimente teste de DNA, que realiza
um “serviço” para uma família sem condições econômicas, enquanto explora o
“espetáculo” de sua desgraça. Da mesma forma, famílias endividadas pelo
extorsivo sistema bancário e pela carestia de vida, participam de programas que
podem lhe proporcionar dinheiro desde que acertem ou cumpram joguinhos infantis
que nada acrescentam culturalmente ao povo brasileiro (Programa Silvio Santos,
do Gugu, Mega Senha, Caldeirão do Huck, etc.). Pode haver barbarismo mais
desprezível transformado em suposto entretenimento? O que programas desta
estirpe, que ocupam o horário nobre da TV brasileira, incentivam a população a
fazer?
Outros tipos de programas de “humor” e
entretenimento, também de baixo nível, levam à idiotização da população: Pânico
na Band, Jack Ass, Big Brother Brasil, programas de auditório que se repetem
incessantemente (Domingo Legal, Domingão do Faustão, Hora do Faro, Esquenta, etc.).
É incentivado um humor barato, que na verdade apenas “idiotiza” a população e
realiza passatempos que prendem a atenção de forma a desligar-se da realidade.
Entre as emissoras se desenvolve uma luta por audiência visando desesperadamente
o mercado publicitário. Os programas não são nivelados por cima, mas por baixo.
Exploram o corpo da mulher e o sexo de maneira vulgar. Programas como o
Esquenta, da Rede Globo, glorificam a favela, a pobreza e a miséria, como se
tudo isso fosse muito bonito e natural. As músicas e as bandas são amplamente veiculadas
não pela sua qualidade musical, mas de acordo com a venda de CD e jingles, que proporcionem refrões
fáceis, de baixo nível melódico e de conteúdo. O mercado de filmes e de livros
segue a mesma lógica. A escolha artística e cultural, portanto, não é feita por
sua qualidade, escolhida livremente pelo povo, mas pelo crivo das emissoras,
gravadoras e editoras, que colocam as suas exigências de mercado acima das
exigências da qualidade artística. Assim, a cultura popular e o nível
intelectual do povo são sempre nivelados por baixo com a desculpa do ibope e da
audiência. Para fazer a população se interessar por uma cultura mais elevada é
preciso quebrar esta lógica empresarial da grande mídia e, sobretudo, o seu
“direito” de propriedade.
d) Novelas da Globo: “fábrica de sonhos” ou “fábrica de manipulações sutis”? As novelas da Globo geralmente tratam dos temas infalíveis: amor, traições, crises familiares, emocionais, desentendimentos humanos; enfim, de questões comuns ao dia-a-dia da população. É de contrabando com estes temas que são trazidos a público assuntos moralistas e de conduta, bem como questões políticas imperceptíveis ao senso comum.
d) Novelas da Globo: “fábrica de sonhos” ou “fábrica de manipulações sutis”? As novelas da Globo geralmente tratam dos temas infalíveis: amor, traições, crises familiares, emocionais, desentendimentos humanos; enfim, de questões comuns ao dia-a-dia da população. É de contrabando com estes temas que são trazidos a público assuntos moralistas e de conduta, bem como questões políticas imperceptíveis ao senso comum.
Além disso, as novelas vendem “moda”, através das
roupas e maquiagens, bem como estética através dos atores. Também vendem
músicas para as grandes gravadoras; serviços financeiros para os bancos; além
de uma verdadeira campanha de catequização de diversas doutrinas religiosas
(católicas e espíritas, na Globo; evangélicas na Record). Esta catequização
ocorre de forma velada, escondida sob uma roupagem insuspeita e “ingênua” de
uma singela história de amor. Todas as novelas, independentemente de emissora, fazem
propaganda política e ideológica de alguma forma.
Alguns exemplos: em o Salvador da Pátria
(1989), o protagonista Sassá Mutema (Lima Duarte) é uma alusão à Lula, que,
naquele momento histórico em que o PT ainda defendia algumas bandeiras
progressivas, tentava chegar à presidência da República lutando contra Collor
de Melo. O trabalho oculto da novela consistiu em colocar o semi-analfabeto
Sassá Mutema como um frustrado candidato à prefeitura da cidade fictícia,
querendo induzir a população a pensar o mesmo de Lula. O resultado desta
manipulação, somado a outros meios, foi extremamente eficaz. Outro exemplo é a
novela Duas Caras (2008), que através da ascensão de um líder comunitário e
populista, Juvenal Antena (Antonio Fagundes), faz uma crítica a Hugo Chávez na
Venezuela. O chavizmo estava em seu auge na época em que a novela foi
transmitida. Além disso, a novela queria desmoralizar o movimento estudantil –
que estava em ascenso a partir das ocupações de reitoria – através de um estudante
que só aparecia dizendo coisas sem sentido e que nos embates com o reitor
sempre saía derrotado, sem argumentos consistentes, ora apresentado como um
baderneiro, ora como um ingênuo ou irresponsável. Esses são apenas alguns
exemplos; muito mais poderia ser dito.
Para muitas vidas solitárias nos grandes centros
urbanos, a TV passou a ser uma companheira que “fala”, lança sons e imagens
para ilusoriamente diminuir a angústia da solidão de centenas de milhares de
indivíduos. Muitas pessoas se emocionam, choram e chegam até mesmo a se
apaixonar por apresentadores, atores, artistas e jornalistas da TV. A “fábrica
dos sonhos” não está preocupada com o avanço da arte cênica (ainda que existam
boas produções do ramo ligadas à adaptação de obras literárias), mas sim, na
manipulação política através da exploração do lado emocional da população.
e) Programas religiosos X programas científicos (restritos à TV fechada): várias emissoras destinam seus horários nobres para uma catequização em massa. Um pastor, que mais parece um político em campanha eleitoral, divulga sua doutrina religiosa e, por trás dela, reafirma sutilmente bandeiras políticas reacionárias (contra o aborto; defesa da família patriarcal, da pátria, etc.). Todo o imaginário religioso e místico da população é trabalhado em um espaço televisivo que poderia ser utilizado para a divulgação da ciência ou de alguma grande produção cultural da humanidade.
Os programas sobre ciência estão em absoluta desvantagem em comparação ao misticismo religioso, amplamente patrocinado. Algumas igrejas detém diretamente o controle de emissoras de TV e empresas de comunicação (como é o caso da Rede Record, controlada pela Igreja Universal; e a Rede Vida, uma das emissoras controladas pela Igreja Católica dentre várias outras que influencia indiretamente). A maior parte dos programas científicos estão restritos à TV fechada e, tanto estes, quanto os da TV aberta, sofrem com a infiltração do misticismo. Isto é, apresentam à população conclusões pseudo científicas, que reforçam de uma forma ou outra o pensamento religioso e idealista. Diversas reportagens tratam insistentemente de fatos “sobrenaturais”, não para esclarecê-los, mas para instigar o medo e o lado místico do povo.
Os programas sobre ciência estão em absoluta desvantagem em comparação ao misticismo religioso, amplamente patrocinado. Algumas igrejas detém diretamente o controle de emissoras de TV e empresas de comunicação (como é o caso da Rede Record, controlada pela Igreja Universal; e a Rede Vida, uma das emissoras controladas pela Igreja Católica dentre várias outras que influencia indiretamente). A maior parte dos programas científicos estão restritos à TV fechada e, tanto estes, quanto os da TV aberta, sofrem com a infiltração do misticismo. Isto é, apresentam à população conclusões pseudo científicas, que reforçam de uma forma ou outra o pensamento religioso e idealista. Diversas reportagens tratam insistentemente de fatos “sobrenaturais”, não para esclarecê-los, mas para instigar o medo e o lado místico do povo.
A tamanha desproporção entre os horários dos
programas religiosos e os programas “científicos” (se é que podemos chamá-los
assim), torna a afirmação de que o Estado brasileiro é laico uma farsa. Na
verdade, demonstra apenas que se trata de um cinismo institucionalizado. A TV e
a grande mídia patrocinam a catequização religiosa do povo (católica,
evangélica, espírita, mística) visando uma finalidade de dominação política.
Quem é doutrinado no abstrato, no além, no sobrenatural, não consegue enxergar
o real, o humano, o político, o concreto. Quanto menos capacidade crítica e
científica tiver a população, mais facilmente será dominada e iludida por
qualquer engodo veiculado na grande mídia.
O militante trotskista norte americano, George
Novack, analisando o conteúdo do mercado editorial dos EUA, nos dá uma
excelente análise de como a grande mídia trata a questão da ciência
(materialismo) X religião (idealismo): “Os
defensores do capitalismo – da universidade e das igrejas aos meios de
comunicação – realizam persistentes esforços para evitar a penetração do
pensamento materialista. Aqui vai um exemplo típico. A publicação de Henry
Luce, Life, a revista de maior
circulação nos EUA, é um dos protagonistas mais ativos da cruzada
antimaterialista. Em 1956 publicou uma série sobre a ‘epopéia do homem’ que
tratava das últimas descobertas científicas sobre as origens da civilização.
Era impossível referir-se a este tema sem minar, ainda que por suas
implicações, o cristianismo ortodoxo. Se, como demonstra indiscutivelmente a
teoria da evolução, o homem surgiu do reino animal, que crédito pode ser dado a
Adão e Eva e fábulas similares sobre a origem divina do homem? Os editores se
apressaram em vacinar seus leitores contra qualquer heresia materialista:
‘a cosmogonia materialista – escrevem
– demonstrou ser tão pouco satisfatória como a leitura literal do Gênesis, do
sistema geocêntrico de Ptolomeu ou o universo mecânico de Newton. E o segredo
da origem do homem e a razão de sua existência nesse planeta seguem sendo tão
misteriosos como antes’. Ou seja, todas
as conclusões da ciência não nos dizem nada que as tribos israelenses não
soubessem sobre o desenvolvimento do mundo e o destino da humanidade! Descartada
assim a ‘cosmogonia materialista’ (e de passagem os resultados da ciência), os
editores colocam que o surgimento e a atividade da ‘consciência’ constitui a
prova decisiva da natureza divina do homem. Contrapõem a moralidade eterna às
conclusões da ciência moderna que se baseia no método do materialismo. Os
argumentos teóricos destes apologistas da existência de deus são tão débeis
como imensos seus recursos financeiros e influências. Mas uma coisa é evidente.
Estes defensores da religião e do capitalismo consideram o materialismo seu
principal inimigo ideológico, que precisa ser combatido ainda que o custo
signifique o suicídio da ciência. Estes cérebros que funcionam nos arranha-céus
se colocam no mesmo nível que os adversários do materialismo da Grécia antiga,
os caçadores hereges da Europa católica e os caipiras batistas que tentavam
banir o darwinismo no Tenesee há algumas décadas”[9].
A longa citação foi necessária porque elucida a
questão.
f) O horário eleitoral, os debates e a cobertura das eleições na grande mídia: O nível político da democracia burguesa é tão baixo que o grande trunfo dos partidos é o controle da maior parcela do horário eleitoral. Geralmente ganha as eleições quem tem o maior tempo de TV; daí advém muitas coligações esdrúxulas visando esta finalidade ou leiloando os seus minutos de TV. Para muitos partidos – inclusive os reformistas – participar das eleições é apenas uma oportunidade de aparecer na TV como um fim em si mesmo. A partir destas aberrações se pode constatar a total falta de democracia, pois como é possível achar normal o tempo de 10 ou 5 minutos para alguns partidos e 45 ou 50 segundos para outros? Não deveria haver um rateio de tempo entre todos os partidos e o que apresentasse o melhor programa se consagrasse vencedor? Isso é impossível, pois, no essencial os programas políticos são idênticos e os partidos reformistas não rompem com a lógica geral do discurso eleitoral, mantendo a sua propaganda dentro dos marcos da democracia burguesa, do reformismo e do doutrinarismo (ainda que eventualmente um que outro partido reformista fale em “revolução” de uma forma totalmente dogmática, descontextualizada e demagógica). Vencem, portanto, os partidos que aparecem mais, que conseguem mesclar a melhor publicidade de um “candidato-mercadoria” com a lavagem cerebral feita em forma de jingle e efeitos especiais; além, é claro, dos seus contratos ocultos com grandes empresas, empreiteiros, latifundiários e o imperialismo.
f) O horário eleitoral, os debates e a cobertura das eleições na grande mídia: O nível político da democracia burguesa é tão baixo que o grande trunfo dos partidos é o controle da maior parcela do horário eleitoral. Geralmente ganha as eleições quem tem o maior tempo de TV; daí advém muitas coligações esdrúxulas visando esta finalidade ou leiloando os seus minutos de TV. Para muitos partidos – inclusive os reformistas – participar das eleições é apenas uma oportunidade de aparecer na TV como um fim em si mesmo. A partir destas aberrações se pode constatar a total falta de democracia, pois como é possível achar normal o tempo de 10 ou 5 minutos para alguns partidos e 45 ou 50 segundos para outros? Não deveria haver um rateio de tempo entre todos os partidos e o que apresentasse o melhor programa se consagrasse vencedor? Isso é impossível, pois, no essencial os programas políticos são idênticos e os partidos reformistas não rompem com a lógica geral do discurso eleitoral, mantendo a sua propaganda dentro dos marcos da democracia burguesa, do reformismo e do doutrinarismo (ainda que eventualmente um que outro partido reformista fale em “revolução” de uma forma totalmente dogmática, descontextualizada e demagógica). Vencem, portanto, os partidos que aparecem mais, que conseguem mesclar a melhor publicidade de um “candidato-mercadoria” com a lavagem cerebral feita em forma de jingle e efeitos especiais; além, é claro, dos seus contratos ocultos com grandes empresas, empreiteiros, latifundiários e o imperialismo.
O que se vê no horário eleitoral na TV é uma voraz
disputa pelo voto, sem nenhum argumento consistente. Não se debate programa
político. O que se tenta é vender um produto, uma imagem. Geralmente os
horários eleitorais fazem filmes que mostram o “drama” da trajetória pessoal
dos candidatos, suas relações familiares, suas "qualidades" pessoais,
etc. Estes filmes tentam comover o lado emocional da população, mostrando-os
como “pessoas comuns” que não teriam interesses econômicos maiores a zelar. Que
voto um político poderia receber se defendesse em seu horário eleitoral o corte
de gastos para pagar as dívidas externa e interna? Que privatizaria empresas públicas,
portos e rodovias? É evidente que tudo isso fica para “depois da eleição”,
enquanto que no horário eleitoral é legalizada a propaganda pela metade, distorcida,
omissa ou mesmo mentirosa. O programa de governo não é apresentado porque, no
essencial, todos são iguais. O horário eleitoral, portanto, não serve para
esclarecer, mas somente para vender ilusões, imagens, tal como um anúncio
publicitário qualquer. Isto é assim porque os candidatos e os partidos não
podem apresentar abertamente o seu programa, que nada mais é do que os
interesses do capitalismo: o desmonte dos serviços públicos, a entrega dos
recursos naturais e financeiros ao imperialismo, o pagamento da dívida interna
e externa; em suma, a política de benefício do grande capital em detrimento dos
“interesses públicos”. É por isso que votar não muda pra melhor a vida dos
trabalhadores.
Outra manipulação descarada da grande mídia são as
“pesquisas eleitorais” que induzem descaradamente o voto apresentando os
candidatos e partidos “mais bem posicionados”. A partir daí, ela dá maior
cobertura a estes candidatos, o que é outra aberração. Este tipo de pesquisa
prévia deveria ser proibida, mas é exatamente ela que dá a tônica para o
“debate eleitoral” e para as eleições. Em 2014 as pesquisas erraram descaradamente
(não 1 ou 2 pontos percentuais, mas mais de 20%) e causaram grande comoção,
levando à proposta de criação de uma CPI no Congresso Nacional, que foi
rapidamente abafada através do lobby dos grandes monopólios de “comunicação”.
O debate eleitoral é outra farsa, montado
capciosamente para não se debater nada de sério e profundo. Não se debate
programa político, mas temas genéricos, como saúde, educação e moradia, sem
nunca tocar em temas caros ao capitalismo como a dívida externa e interna, que
consomem quase 50% dos recursos do país. Como é possível ter política para os
serviços públicos mantendo o superávit primário para pagar os juros das
dívidas? Não seria mais honesto debater prioritariamente a questão das dívidas
ou, então, dizer honestamente como os custos serão passados para o povo?
O regime democrático-burguês, através da grande
mídia, dá as piores desculpas para excluir os partidos de "esquerda"
dos debates na TV: representação no Congresso Nacional. Isto, na verdade, é uma
desculpa esfarrapada; é falta de vontade política, censura. Ainda que no
essencial estes partidos sejam reformistas e não representem ameaça ao regime,
podem levantar temas e questionamentos incômodos que, em épocas eleitorais, mudem
um pouco a matemática das posições, das manipulações e da vitória final. Cabe
ressaltar ainda a manipulação do debate eleitoral entre Collor e Lula em 1989
pela TV Globo – manipulação esta admitida atualmente pelo diretor Boni, que
nenhum tipo de penalidade sofreu por isso, nem a sua emissora.
Todos os debates verdadeiramente essenciais estão
fora do horário eleitoral, que servem apenas para uma propaganda enganosa, ou
são deturpados e manipulados. Não há como se “informar” seriamente sobre a
situação política do país e nem escolher em quem votar, porque não existe
explanação de propostas e debates verdadeiros na TV, apenas clichês,
dissimulações e manipulação.
g) Propagandas: Os informes publicitários consomem a maior parte do tempo da TV. Não há nenhum programa televisivo que não tenha um patrocinador e que dê grande destaque para a propaganda. Este mercado é praticamente dominado pelos grandes empresários, sobretudo os ligados ao ramo das multinacionais montadoras de carros, que pagam pelo horário nobre. Quem paga a banda, escolhe a música. O conteúdo da TV não é livre. Está totalmente subordinado ao grande capital que anuncia seus produtos nos horários destinados à propaganda e sustenta toda esta estrutura de alienação.
g) Propagandas: Os informes publicitários consomem a maior parte do tempo da TV. Não há nenhum programa televisivo que não tenha um patrocinador e que dê grande destaque para a propaganda. Este mercado é praticamente dominado pelos grandes empresários, sobretudo os ligados ao ramo das multinacionais montadoras de carros, que pagam pelo horário nobre. Quem paga a banda, escolhe a música. O conteúdo da TV não é livre. Está totalmente subordinado ao grande capital que anuncia seus produtos nos horários destinados à propaganda e sustenta toda esta estrutura de alienação.
Nesse sentido, a declaração de Roberto Irineu
Marinho é esclarecedora: “Não tenho
dúvida que a Globo do futuro continuará jovem, continuará vibrante e continuará
a dona do seu tempo, informando, divertindo e emocionando os brasileiros. E
que, juntos, continuaremos a explorar as oportunidades que assegurem o
fortalecimento de nosso mercado e os melhores resultados para os nossos
anunciantes”[10]. A
grande mídia e as suas empresas monopólicas estão estruturadas conforme os
interesses dos seus anunciantes. E é a partir daí que temos o fim de qualquer
resquício de “liberdade de imprensa”. As emissoras e jornais publicam notícias
de interesse de uma grande empresa e, em contrapartida, esta compra um
determinado espaço publicitário[11].
As notícias, programas e matérias dos jornais
impressos são feitas para preencher os espaços “deixados em branco” pelos
anúncios. O setor de publicidade é o que define o espaço inicial, programado,
página por página, programa por programa, dos anúncios a serem inseridos. O que
sobra de espaço é distribuído entre as várias editorias, e a divisão é feita em
proporções variáveis. A redação tem um caráter subordinado ao setor de
publicidade, que é utilizado para instigar e direcionar o consumismo de acordo
com as exigências do mercado e, é claro, do setor capitalista que pagar mais
caro. Os governos em todas as suas instâncias também se utilizam da propaganda
midiática para divulgar seus “feitos”, obras e os falsos slogans para melhor
iludir os trabalhadores (Brasil: um país de todos; cada vez mais independente;
sem pobreza, etc.). Para isso, compram espaço na mídia com dinheiro público.
As grandes empresas de comunicação ainda ganham
isenções fiscais para prestar supostos serviços públicos, como veicular
propagandas de instituições de caridade, como a APAE, o horário eleitoral e a
propaganda política obrigatória. Além disso, as isenções de impostos aumentam
quando as emissoras realizam programas assistencialistas como “Criança
Esperança”, “Teleton”, dentre outros. É um “negócio da China”: os monopólios da
grande mídia ganham rios de dinheiro com poucos minutos de espaço publicitário
e isenções fiscais para fazer um suposto trabalho filantrópico. Com tal
funcionamento, é óbvio que os monopólios midiáticos só poderiam trabalhar no
sentido da luta visceral contra o socialismo.
Conclusões
No meio deste mar de manipulações e falsificações
encontra-se algum tipo de prestação de serviços (notícias sobre o trânsito,
previsão do tempo, informação de prazos), notícias úteis (até mesmo que aborde
algum aspecto progressivo da conjuntura ou da luta dos trabalhadores), programas
educativos e produções artísticas interessantes. Porém, encontram-se tão
soterrados por toda esta estrutura midiática que é muito difícil encontrá-los
ou não deixá-los se anular por este turbilhão de programas idiotizantes e
manipuladores, cuja finalidade, como se viu, é alienar as massas trabalhadoras.
Além disso, um instrumento com grande poder educativo como a TV não pode ser utilizado
como uma máquina para o consumismo e a manipulação política inescrupulosa e
capciosa.
Os gritos da grande mídia contra a inexistência de
“liberdade de imprensa” nos países ditos “comunistas” ficam, assim,
desmascarados. É tudo um jogo de cena para desviar a atenção da verdadeira
censura à liberdade de imprensa que sofremos no “mundo civilizado ocidental”. O
primeiro pré-requisito para a existência de liberdade de imprensa, como foi bem
definido por Marx, é que ela não seja um negócio. E como vimos, ela é um dos
negócios mais lucrativos, conformando monopólios que influenciam e alienam
milhões de seres-humanos, seguindo, unicamente, o que entendem por “liberdade
de imprensa”. Tudo o que fere o seu direito de propriedade e de continuar sendo
um monopólio imensamente lucrativo é tratado como um “ataque à liberdade de
imprensa”. É uma contradição absurda falar em liberdade de imprensa enquanto
houver monopólio privado dos meios de comunicação. Para que ela exista
efetivamente, a propriedade dos meios de comunicação precisa ser socializada.
A política do PT de regulamentação da mídia
(repetida por PSOL e outros satélites) não resolve o problema real de censura e
manipulação. Os encontros nacionais convocados pelas correntes sindicais e
políticas do PT tinham dois eixos centrais: regulamentação de funcionamento
para tentar evitar as manipulações; e o incentivo às mídias alternativas
(internet, redes sociais, rádios comunitárias, etc.). Contudo, esta política
apenas cria novas ilusões de que é possível controlar os monopólios midiáticos
dentro do capitalismo e de competir com a grande mídia a partir das mídias
alternativas. Esta política reformista é outra catástrofe que nem sequer se
propõe a responder as distorções da grande mídia sobre os “ataques à liberdade
de imprensa”. Não pode cumprir este papel em razão do caráter de classe do PT e
dos seus governos.
A única forma de criar uma mídia que sirva aos
interesses do povo é expropriando os grandes monopólios midiáticos e
colocando-os sob controle das organizações proletárias. Para isso, é necessário
uma revolução socialista, preparada por uma organização prévia dos trabalhadores,
dentre as quais a principal é a construção de um partido revolucionário.
Somente estas condições poderão permitir o debate da programação e dos
conteúdos por congressos periódicos de trabalhadores, convocados e debatidos
com toda a sociedade, transformando a TV de um instrumento de alienação,
opressão e dominação, em um meio para a formação educativa, cultural e social
de todo o povo.
***
A luta política no final do século XIX e início do
XX se dava através da criação e propagação de um jornal, que defendia
abertamente posições partidárias. São exemplos disso a imprensa abolicionista e
republicana, bem como os jornais das duas facções envolvidas na Revolução
Federalista do Rio Grande do Sul. A expressão mais alta desta luta ideológica
deu-se através dos jornais Iskra e Pravda do Partido Bolchevique, na
Rússia. Em maior ou menor medida, a luta ideológica se processava em pé de
igualdade de recursos. Os jornais conseguiam difundir-se, mesmo proibidos ou
com poucos recursos. Não havia um abismo tão gigantesco entre a mídia burguesa
e a imprensa operária.
Atualmente salta aos olhos esta disparidade de
forças. Enquanto a burguesia dispõe de TV, rádio, jornais de grande circulação,
portais de internet; a esquerda segue restrita ao velho jornalismo e às mídias
alternativas e redes sociais (que, como foi dito, são muito importantes, mas
não conseguem competir seriamente com a grande mídia). Contudo, essa dura
conclusão não deve servir como desculpa para a prostração e o ceticismo.
Enquanto não é possível atingir os objetivos de socialização dos monopólios
midiáticos, é dever dos revolucionários denunciar as manobras e manipulações da
grande mídia por todos os meios que lhes forem acessíveis e apresentar o
programa socialista aos trabalhadores. Deve-se tornar prática comum do trabalho
revolucionário atual desmascarar uma a uma as notícias falaciosas e
tendenciosas veiculadas pela grande mídia. Por hora, o melhor remédio é formar
as novas gerações de revolucionários vacinados contra a grande mídia e
habituados a respondê-la no melhor estilo da crítica marxista.
NOTAS
[1] FONSECA, Virginia Pradelina da Silveira. Indústria de notícias: capitalismo e novas tecnologias no jornalismo contemporâneo. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2008.
[2] Capparelli, 1989, p.23, in FONSECA, Virginia Pradelina
da Silveira. Indústria de notícias: capitalismo e novas tecnologias no
jornalismo contemporâneo (p. 93). Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2008.
[3] Esta declaração foi dada na solenidade de premiação dos
50 anos da Rede Globo pela Abap (Associação Brasileira de Agências de
Publicidade), com matéria exibida no Jornal da Globo de 15 de maio de 2015.
[4] FONSECA, Virginia Pradelina da Silveira. Indústria de
notícias: capitalismo e novas tecnologias no jornalismo contemporâneo. Porto
Alegre: Editora da UFRGS, 2008.
[5] Ver: 1) http://construcaopelabase.blogspot.com.br/2014/06/eleicoes-do-cpers-marcadas-pela-vitoria.html;
2) http://construcaopelabase.blogspot.com.br/2014/05/a-grande-midia-favorece-burocracia.html;
3) http://construcaopelabase.blogspot.com.br/2014/06/1-como-esta-campanha-osprofessores.html
[6] Revista Época, editora Globo, junho de 2015, “O
triunfo do traidor herói”, página 14 (negritos nossos).
[7] FONSECA, Virginia Pradelina da Silveira. Indústria de
notícias: capitalismo e novas tecnologias no jornalismo contemporâneo. Porto
Alegre: Editora da UFRGS, 2008.
[8] Sindicato dos professores e funcionários de escola do
RS. O segundo maior sindicato do país e o maior do RS.
[9] NOVACK, George. As origens do materialismo. São Paulo,
2015. Editora Sundermann.
[10] Declaração dada por R.I. Marinho na solenidade de
premiação pela Abap aos 50 anos da Rede Globo (ver nota 3).
[11] FONSECA, Virginia Pradelina da Silveira. Indústria de
notícias: capitalismo e novas tecnologias no jornalismo contemporâneo. Porto
Alegre: Editora da UFRGS, 2008.