*Por Santiago Marimbondo
Se há uma esfinge que se não decifrada ameaça nos devorar (como um dragão mítico) quando se pensam os fenômenos geopolíticos que definem o cenário internacional no século XXI certamente a questão da ascensão da China à posição de potência global nas últimas décadas é a fundamental. Se desde a expansão capitalista, primeiramente capitaneada pela Inglaterra no século XIX, a posição global do então império chinês foi rebaixada a patamares não antes conhecidos em sua milenar história (o período de submissão chinesa às potências capitalistas ocidentais é conhecido hoje na narrativa oficial da burocracia estatal que dirige o estado como “século da humilhação”) a partir da revolução vitoriosa no país em 1949, e mais centralmente a partir das reformas pró-capitalistas levadas a cabo por Deng Xiaoping, o país reconquistou uma posição e influência no cenário internacional; agora dentro do contexto da economia-mundo capitalista, que se estrutura no ocidente pelo menos desde o século XV em suas diferentes fases de expressão, e que no mundo contemporâneo se manifesta dentro das relações assimétricas e hierarquicamente organizadas entre os diferentes estados nacionais no contexto da fase imperialista do modo de produção burguês.Nesse sentido, se torna questão fundamental para todos aqueles que buscam refletir sobre as formas de estruturação atuais das relações capitalistas concretas, sua manifestação efetiva dentro das relações conflituosas entre os múltiplos capitais representados pelos diferentes estados ao redor do globo, os motivos e causas dessa nova posição global da China, que tende a ser elemento definidor, nos mais diferentes aspectos, das relações internacionais no novo século.
Para nós trabalhadores que buscamos lutar contra a reprodução de nossa condição de subalternidade, de alienação e estranhamento impostos pelas relações reificadas e fetichistas que se colocam no capitalismo, portanto, esse debate também se faz essencial. Por vezes, fruto das mais imediatas e prementes necessidades concretas que afetam nossas vidas, nós membros da classe trabalhadora somos levados a crer que as grandes questões políticas e geopolíticas, os debates sobre fatores chave que estruturam nossa realidade social, são questões a serem pensadas e debatidas apenas pelos “especialistas” autodeclarados que encontram espaço midiático nos meios de comunicação oficiais, porta-vozes bem pagos das posições da classe dominante dentro do sistema.
Faz parte da construção da hegemonia social burguesa e reprodução de nossa condição de subalternidade a reprodução dessa perspectiva; a superação dessa condição de subalternidade pressupõe que nós trabalhadores nos coloquemos a refletir, pensar de forma crítica, buscar respostas independentes, de forma coletiva, a todas as questões fundamentais que fazem parte da estruturação da realidade social onde estamos inseridos.
Assim, é preciso saudar calorosamente a iniciativa do camarada Lucas Berton, professor precário do ensino público estadual no Rio Grande do Sul, de publicar sua pesquisa e reflexão séria sobre os elementos que explicam essa rápida ascensão global chinesa, como iniciativa fundamental e exemplar de um intelectual orgânico da classe trabalhadora que visa ter não uma relação passiva e reativa com os fenômenos sociais definidores de sua época, mas uma relação ativa e militante, que entende que a reflexão teórica detida e aprofundada sobre esses fenômenos é essencial para uma ação prática e transformadora.
Leia o prefácio do livro na íntegra em:
https://quilombospartacus.wordpress.com/2023/02/14/a-ascensao-mundial-da-china-prefacio-ao-livro-de-lucas-berton/