O PT governou o Brasil por
mais de dois mandatos. Foi depositário de grandes esperanças, mas deixou um
legado de desilusão e ceticismo no futuro. O que levou o PT a abandonar o
suposto “discurso radical” e abraçar as alianças com Sarney e Maluf, a
corrupção escancarada, a aplicação dos projetos neoliberais? Alguns
intelectuais burgueses divulgam suas opiniões sobre a adaptação do PT ao
capitalismo, que circulam através de artigos nos jornais, em telejornais e
correntes de e-mails, sendo, muitas vezes, assimiladas pelos trabalhadores por
falta de um contraponto. Estas análises dizem que a adaptação ao capitalismo é
inevitável, que isto é a única “realidade possível”, que qualquer partido que
chegue ao poder inevitavelmente se degenerará. Isto oculta um pensamento
catastrofista de que não há saída. Só se pode concluir, então, que não adianta
lutar e que devemos nos resignar aos ataques, desvinculando a luta dos
trabalhadores da perspectiva do poder.
Deixar os trabalhadores
reféns deste falso raciocínio, como faz a atual “esquerda” – ávida por galgar
os mesmos cargos eleitorais dentro do Estado burguês –, é um crime. O PT não
mudou somente quando chegou ao poder. Optou conscientemente pelo reformismo,
pela suposta “administração” do capitalismo, deixando todas as portas abertas à
influência da burguesia. E são essas lições que precisam ser discutidas e assimiladas
pelos trabalhadores.
É preciso que se diga,
também, que o capitalismo exerce uma pressão ideológica e política permanente
sobre as organizações dos trabalhadores, sejam elas partidos, sindicatos,
associações, etc. Há uma tendência inerente do sistema a influenciar boa parte
da vanguarda no sentido da burocratização. Estes males, portanto, só podem ser
evitados por uma luta permanente e consciente. E esta “luta” só pode ser levada
a cabo por um partido revolucionário que sustente um programa marxista.
1) A transição da ditadura militar para a democracia burguesa
O PT teve um papel chave
na transição da ditadura para a democracia burguesa. A sua origem remonta o
ascenso do movimento operário da década de 1980. Inúmeros movimentos que
contestavam a ditadura militar e o seu sindicalismo oficial pelego se
unificaram em torno do projeto político do PT. A composição política dessas
correntes era heterogênea: sindicalistas, parlamentares, marxistas, a ala
esquerda da Igreja, dentre outros. O papel cumprido pelo PT neste momento foi
progressivo, muito embora já expressasse limitações políticas e os futuros
germes da degeneração. Os primeiros documentos e cartas de princípios continham
elementos classistas e combativos, mas foram, a partir do congresso de fundação
em 1980, pouco a pouco, cedendo espaço a um programa conciliador.
As greves radicalizadas
que aceleraram o fim da ditadura foram dirigidas pela cúpula do PT no interesse
da transição para a democracia burguesa. As suas principais lideranças
sindicais – como é o caso de Lula e da Articulação Sindical – sempre defenderam
uma “democracia” abstrata, contrária ao socialismo; isto é, defendiam
dissimuladamente a democracia burguesa. Sua política nunca foi orientada pela
revolução socialista. Refletindo a queda do muro de Berlim e a restauração do
capitalismo nos ex-Estados operários, a burguesia mudou de tática. O discurso
“democrático” passou a ser a sua propaganda política, cuja principal função era
fazer respeitar a legalidade e as instituições “democráticas”; segundo ele, bastava
eleger um representante dos trabalhadores ao parlamento e tudo se resolveria. A
luta, ordeira e legal, serviria apenas para projetar candidatos. Tudo se
resolveria pacificamente. Mas existia um movimento sindical em ascenso que
ansiava por mudanças. Por isso, o PT se especializou no discurso demagógico,
típico do reformismo: falava em socialismo nos dias de festa e nos sindicatos,
enquanto que nas greves e no parlamento, mantinha uma postura que não ameaçava
a ordem burguesa; senão que a fortalecia.
2) A democracia capitalista é uma ditadura disfarçada
A burguesia pode
governar de diversas formas: monarquia, monarquia constitucional, república
democrática, ditadura militar. Todas estas formas de governo se sustentam num
estado capitalista e, portanto, representam uma ditadura sobre os
trabalhadores. Algumas formas permitem certas liberdades pontuais aos trabalhadores,
outras não. A transição da ditadura militar para a “democracia” mudou apenas a
forma do Estado, mas não o seu conteúdo, que se baseia na exploração do
trabalho assalariado pelo capital. A democracia burguesa não passa de um
disfarce democrático, que concede o voto simbólico nos partidos que a burguesia
oferece aos trabalhadores, de dois em dois anos, e limitadíssimas liberdades
sindicais. A nossa época é caracterizada pelo domínio dos monopólios imperialistas,
que submetem ao seu poder econômico todos os parlamentos do mundo. Os partidos do
Congresso Nacional brasileiro ou são financiados diretamente pelo capital ou
estão, de alguma forma, à seu serviço. Os trabalhadores não podem influir sobre
os rumos políticos, a política econômica, o dinheiro público, as decisões gerais
do parlamento e sequer podem fazer greve seriamente (a “lei de greve” coloca
limitações que tornam qualquer movimento grevista inócuo; sem falar da
repressão violenta às manifestações).
Mesmo quando um partido
“operário” – como supostamente era o PT – é eleito para administrar o Estado
burguês, o que prevalece são os interesses nos quais este Estado se sustenta: a
garantia da propriedade privada, a organização hierárquica da classe
trabalhadora, a livre compra e venda e a subsequente exploração da força de
trabalho, a acumulação privada de capital.
Por tudo isso, não é
possível eleger um “governo dos trabalhadores” por dentro do Estado e da
democracia burguesa. Todos aqueles que defendem esta tese, ou não conhecem a
história do movimento operário, ou estão enganando os trabalhadores. Os
teóricos da direção do PT se enquadram na segunda opção. O proletariado pode
chegar ao poder não nos quadros formais da democracia burguesa, mas somente por
via revolucionária. Isto é demonstrado ao mesmo tempo pela teoria e pela prática.
Para a burguesia monopolista, o regime parlamentar e o regime fascista não
representam senão diferentes instrumentos de sua dominação: recorre a um ou a
outro, segundo as condições históricas. A “fascistização” do Estado significa
destruir as organizações operárias, reduzir o proletariado a um estado amorfo,
criar um sistema de organismos que penetre profundamente nas massas e destinado
a impedir a cristalização independente do proletariado. As perseguições e
torturas da ditadura militar destruíram as organizações operárias; o seu sindicalismo
pelego oficial aprofundou o controle do Estado sobre os sindicatos. A CUT, quando
surgiu, empunhava a bandeira da independência do Estado, mas, pouco a pouco,
foi abandonando-a, até que, em meados da década de 1990, tornou-se partidária
do sindicalismo cidadão, que se intitulava como “sindicalismo de resultado”,
mas que não se propunha a transpor os limites do capitalismo “democrático” e,
por isso mesmo, não tinha nenhum resultado. No regime “democrático” da
sociedade capitalista, a burguesia apóia-se, antes de tudo, na classe operária
domesticada pelos sindicatos e partidos reformistas.
Democracia e direitos humanos no capitalismo contemporâneo |
Desde o congresso de
1980 que a burocracia lulista vem retirando as bandeiras socialistas do programa
e transformando-o numa plataforma aceitável para a burguesia. Assim, esta foi
vendo a possibilidade de abandonar a repressão direta e, paulatinamente, ir se
apoiando no PT. Este, dirigindo as greves do movimento sindical de fins da
ditadura militar, não lutou pela derrubada do capitalismo; pelo contrário,
entrou como um elo político na transição da ditadura militar para a democracia
burguesa, acalmando e domesticando o movimento operário. Neste intento, o PT
contou com o apoio de PCB e PCdoB, além das suas correntes internas na época,
que hoje conformam PSOL, PSTU e PCO.
3) O PT como oposição nas instituições democrático-burguesas
Passado o período de
maior radicalização das greves, fruto da contenção da burocracia sindical
lulista, o movimento operário entrou em descenso. Aí se aprofundou o processo de
adaptação do PT ao capital. Em fins da década de 1980 o discurso do PT já acentuava
o divórcio com a sua prática. Estava começando uma escola de demagogia política
que se estende até hoje. A burguesia destacava este discurso “pseudo-radical”
para assustar a pequena-burguesia, mesmo que fosse só retórica. Isso ficou
bastante evidente na eleição de 1989, quando Collor foi santificado e Lula demonizado
em razão deste suposto discurso “radical” petista. Frente ao entusiasmo popular
por Lula e pelo PT, a grande burguesia lançou mão de inúmeras calúnias: dizia
que se Lula fosse eleito presidente muitos empresários partiriam do Brasil e
assim a economia do país ficaria arrasada. Panfletos anônimos anunciavam que
Lula iria colocar os mendigos para morar nos apartamentos das classes médias e
que iria confiscar suas poupanças (exatamente o que Collor fez depois de
eleito). O último debate do segundo turno foi totalmente manipulado pela Rede
Globo mostrando apenas os trechos que beneficiavam o seu candidato, Collor. Cada
vez mais o PT foi entrando no jogo da burguesia, aceitando seu discurso
mentiroso acriticamente e procurando “dialogar com as classes médias”.
O PT começou sua
adaptação material a partir dos anos 1990: recebeu as primeiras doações financeiras
eleitorais da burguesia – tal como recebe o PSOL nos dias de hoje. Estas
doações significavam apoio político ao projeto do PT. Em seguida, assumiu os primeiros
cargos de vereadores, deputados, prefeitos. As suas denúncias como oposição parlamentar
– sempre restritas ao regime democrático-burguês – e o seu papel aparente de “sempre
dizer não” aos projetos neoliberais de PSDB, PMDB, PFL (hoje Democratas), etc.,
lhe conferia uma aura de partido que “defendia os trabalhadores” e de uma
ilusão de mudança caso se elegesse a cargos executivos maiores, tais como governador
ou presidente. Mas todo o teatro parlamentar e os gritos “ultra-radicais”, na
verdade, não evitava a retirada de direitos, as privatizações, o desmonte dos
serviços públicos pelos sucessivos governos neoliberais. O PT servia como
válvula de escape ao descontentamento popular, dando um verniz de esquerda e
“colorido” ao regime democrático-burguês, ajudando a consolidá-lo. A carta
final da Constituição de 1988, denunciada pelo PT como uma “carta burguesa”,
passou a ser seu guia para a ação legal e para fazer com que pelo menos 30% das
categorias trabalhassem quando entrassem em greve.
O movimento sindical, ao
invés de ser uma forma de organização e conscientização dos trabalhadores
visando à revolução, foi tornando-se uma moeda de troca eleitoral, cujo
principal objetivo era desgastar politicamente os governos de plantão (que
geralmente eram do PSDB-PFL-PMDB). E esta prática perniciosa ia se disseminando
pelo movimento, fazendo escola, arrasando a consciência de classe e colocando
em seu lugar uma consciência pequeno-burguesa. As eleições deixaram de ser um
espaço de denúncia do capitalismo e passaram a ser a estratégia política de
poder.
4) O PT chega ao poder!
No final dos anos 1990 e
início dos anos 2000, o regime democrático-burguês chega a uma nova fase. Lá se
iam 15 anos de experiências com os políticos e o Congresso Nacional. A era
tucana no governo federal chegava ao fim; era necessário uma nova face,
aparentemente “pura”, para renovar as ilusões nas instituições “democráticas”,
ao mesmo tempo em que tudo continuaria essencialmente igual. Lula, antes de
assumir, assinou uma carta de compromisso com o imperialismo. De antemão já
sabia de todo o jogo das instituições democrático-burguesas, da chantagem
reinante em seu interior que atende pelo nome de “governabilidade”. Antigos
rivais parlamentares inevitavelmente tornar-se-iam aliados fundamentais, desde
Sarney até Maluf, passando por Collor. Nos principais escândalos de corrupção o
PT atuou como defensor dos partidos burgueses da base aliada, constituída de
notórios corruptos. Na atual CPMI de Carlinhos Cachoeira e da empresa Delta,
conjuntamente com o PSDB, protegeu os partidos da sua base aliada. Os “300
picaretas com anel de doutor” tornaram-se os 300 aliados providenciais.
O governo Lula e o
governo Dilma demonstraram, pela milionésima vez, o papel nefasto do reformismo.
Esta experiência vai desde a social-democracia alemã do início do século 20, passando
pelas frentes populares européias, e chegando até as frentes populares latino-americanas,
como a de Allende no Chile, e a Frente Sandinista de Libertação Nacional, na
Nicarágua. Ao contrário do século 19 e do início do século 20, vivemos uma
época em que o capitalismo não concede mais reformas. O reformismo, portanto, é
só um discurso vazio, geralmente eleitoreiro. O governo Lula e Dilma não só não
realizaram nenhuma reforma, como retiraram direitos dos trabalhadores aplicando
impiedosamente todos os planos do imperialismo e da burguesia nacional
(verdadeiras contra-reformas): reforma da previdência, cumprimento da política
dos superávits primários para o pagamento das dívidas externa e interna, contra-reformas
privatistas na educação, saúde, infraestrutura, isenção de impostos às
multinacionais, além da nefasta ocupação militar do Haiti. Não por acaso o PT é
hoje o partido que mais recebe doações eleitorais dos grandes bancos e das multinacionais.
Com o advento do governo
Lula, o PT transformou-se diretamente num partido burguês, que hoje cumpre o
papel de serviçal do imperialismo de forma muito mais eficaz do que a “velha
direita”, pois controla o movimento sindical brasileiro (CUT, UNE, MST) através
de suas burocracias sindicais encasteladas nos principais sindicatos do país e
nas centrais governistas. Os governos do PT são os atuais administradores dos
negócios da burguesia nacional e, sobretudo, estrangeira. PSDB, PMDB,
Democratas, constituem a “velha direita”; e o PT, PCdoB, PSB, a “nova”. Com a
passagem definitiva e aberta do PT para o campo da burguesia, outros passaram a
ocupar o seu lugar de embelezador da democracia burguesa. Falamos de PSOL,
PSTU, PCB, PCO e seus satélites compostos de pequenas organizações políticas.
Usam como justificativa a “alta popularidade” de Lula e Dilma para não denunciar
estes governos como agentes do grande capital e, desta forma, continuar a
conciliação de classes com os governistas no movimento sindical. As chapas em
comum com CUT e CTB em inúmeros sindicatos do país servem de exemplos.
A “alta popularidade”
dos governos do PT é mais um consenso de propaganda entre imperialismo, a
“nova” burguesia nacional, a grande mídia e a esquerda reformista. Esta “alta
popularidade” se sustenta numa campanha midiática sensacionalista repetitiva e na
ausência de denúncias coerentes e de massas por parte desta esquerda, que
deveria impulsionar uma grande agitação nacional. Como não cumprem este papel,
as ilusões no governo não são combatidas. Suas palavras de ordem, pelo contrário,
as reforçam. A campanha da mídia não encontra um contraponto de massas. Em razão
da política conciliadora desta “esquerda”, não se vê alternativa política e nem
uma explicação coerente do caráter dos governos do PT. Sendo assim, as ilusões
se reforçam.
5) Governo Tarso: a farsa da farsa!
Em 2010, após toda esta
experiência política com o governo Lula, elegeu-se governador do Rio Grande do
Sul, Tarso Genro. O justo ódio à Yeda (PSDB) foi capitalizado eleitoralmente pelo PT,
contando com a ajuda de PSOL (Intersindical), PSTU (CSP-Conlutas), CS, PCB,
CEDS, etc. Tarso posou como o “novo” frente à Yeda e não foi denunciado pela vanguarda
do CPERS (em especial por PSOL e PSTU), nem mesmo quando declarou publicamente
via primeira página de ZH que iria manter todas as políticas públicas de Yeda
(ZH: 07/10/2010). No VII Congresso do CPERS, em plena campanha eleitoral, Tarso
foi saudado pela direção do CPERS e pelas demais correntes que lhe dão
sustentação.
O aperto de mão que vale mais do que mil palavras |
Mesmo sabendo de todo o
histórico do PT, esta esquerda jogou terra nos olhos dos trabalhadores gaúchos
e ajudou Tarso a se eleger. Tudo em nome de uma aliança espúria para a
diretoria do CPERS. Ouviu-se, então, a velha cantilena da burocracia sindical:
“é preciso votar no PT para derrotar a direita (o PSDB)”. Este discurso mostrou
todo o seu cinismo: a direita está no poder; e continuará, indefinidamente,
enquanto o capitalismo existir. O governo Tarso, portanto, é a farsa da farsa,
que confirma a caracterização do PT como um partido burguês: Tarso está
aplicando todas as diretrizes políticas do Banco Mundial, aprofundando reformas
neoliberais, dando isenção de impostos às multinacionais, privatizando a
previdência pública, sucateando a educação e a saúde públicas, demitindo
servidores.
E desde a sua eleição, em 2010, já haviam elementos
nacionais que serviriam de base para uma ampla campanha de denúncia dos
governos do PT, visando alertar os trabalhadores para que não depositassem uma
grama de confiança no governo recém eleito, pois ele seria, inevitavelmente,
por toda a lógica do seu programa, a continuidade do governo Yeda. A diferença entre
eles é que Yeda entrará para a História como aquela que tentou aplicar os
planos neoliberais e sofreu a resistência de uma “oposição” eleitoral de PT,
CUT e correntes satélites; e Tarso, por sua vez, entrará para a História como
aquele que conseguiu aplicar os planos de Yeda. E tudo graças ao apoio, ora
aberto, ora dissimulado, dos sindicatos e centrais governistas, como o CPERS e
a CUT.
6) Algumas conclusões
“Uma das origens
psicológicas do oportunismo é uma espécie de impaciência superficial,
uma falta de
confiança no crescimento gradual da influência do partido,
o desejo de ganhar
as massas mediante manobras organizativas ou mediante a diplomacia pessoal.
Daqui surge a
política das combinações de bastidores, a política do silêncio,
do encobrimento,
das renúncias, da adaptação a consignas alheias e,
finalmente, a
passagem total às posições do oportunismo”
Leon Trotsky
O PT é hoje o
sustentáculo da ordem capitalista no Brasil. A burguesia o escolheu como seu
governo para esse momento histórico em razão do seu controle sobre os
sindicatos e as centrais sindicais. A cooptação do PT não aconteceu da noite
para o dia, mas confunde-se com a transição da ditadura militar para a
democracia burguesa, e o desenvolvimento desta. Não foi o PT que reformou o
Estado burguês, mas o Estado burguês que transformou o PT em seu serviçal. Isso
foi possível porque o PT renegou a estratégia revolucionária e abraçou o
programa reformista. A experiência histórica nos diz que os partidos
reformistas terminam se adaptando completamente ao regime burguês. No caso do
PT pudemos ver a sua submissão consciente à chamada “governabilidade” dentro do
Congresso Nacional, que exige alianças e troca de “favores”. O reformismo
sempre adapta-se ao que é aceitável à burguesia.
Os motivos expostos
acima são de ordem subjetiva. Existem os motivos de ordem objetiva, que são os
determinantes, e que ajudaram a criar as justificativas ideológicas reformistas
do PT: as derrotas históricas dos trabalhadores a nível mundial; em especial, a
restauração do capitalismo nos ex-estados operários (URSS, leste europeu, Cuba
e China) que tiveram um efeito destruidor em toda a esquerda mundial. A negação
do programa socialista e a opção pelo caminho parlamentar burguês se fortaleceram
com a campanha mundial orquestrada pelo imperialismo de que o “socialismo tinha
morrido” ou “sempre se torna ditadura”. A desorganização das fileiras
proletárias que se seguiu a restauração capitalista foi sentida em todos os
cantos do planeta e a crise de direção se acentuou como nunca antes visto.
Muitos ativistas
equivocadamente abraçam a ideia do apartidarismo e negam a necessidade de uma
organização política e, em alguns casos, até mesmo sindical, pensando que,
dessa forma, irão “punir” o PT e rechaçar a sua degeneração. Contudo, o grande
erro do PT, desde a sua origem, consiste, como já foi dito, em renegar o
programa revolucionário, a tomada do poder pelos trabalhadores pela via revolucionária
e em subordinar toda a sua estratégia à eleição de um governo do PT, por dentro
do capitalismo. A experiência do governo Lula e Tarso comprovam, de forma
insofismável, que nenhum “governo dos trabalhadores” pode surgir e fazer alguma
“reforma” em benefício dos trabalhadores por dentro do capitalismo.
Se enganam aqueles que
pensam que rechaçando todos os partidos estão punindo a traição do PT e se
conservando da “degeneração”. Ao rechaçar todos os partidos não estão
rechaçando apenas os partidos da “velha” e da “nova” direita e os da “nova”
esquerda, mas também a necessidade premente da construção de um partido
revolucionário (e sem este, se vai todo o projeto político independente da
classe operária). A classe trabalhadora tomada em si, desorganizada, não é
senão matéria de exploração. O papel próprio do proletariado começa no momento
em que, de uma classe social em si, se torna uma classe política para si. Isto
só se pode produzir por intermédio do partido revolucionário. O partido é o
órgão histórico com o auxílio do qual a classe operária adquire a sua
consciência (foi justamente deste papel que o PT abriu mão ao aderir ao
reformismo). Dizer: “a classe está acima do partido” é o mesmo que afirmar: a
classe em estado bruto está acima da classe em vias de adquirir a sua
consciência. Não só isto é falso, como é reacionário. O desenvolvimento da classe,
em sua consciência, isto é, a edificação de um partido revolucionário que
arraste atrás de si o proletariado, é um processo complicado e contraditório. A
classe não é homogênea. Suas diferentes partes adquirem consciência por
caminhos diferentes e em épocas diferentes. A burguesia toma uma parte ativa
nesse processo. Cria os seus órgãos na classe operária, utiliza os existentes,
opondo certas camadas de operários a outras.
Aí está o papel do PT e
dos demais partidos burgueses, tais como PCdoB, PSB, etc. e dos reformistas,
tipo PSOL, PSTU, PCB, etc. Em sua origem, o PT iniciou espontaneamente um
processo que incentivava uma tomada de consciência de classe. Isso se expressa
em suas primeiras declarações programáticas que continham elementos classistas.
Mas essa consciência foi sendo renegada, pouco a pouco, graças a atuação da
burguesia exteriormente e da burocracia sindical no seu interior;
gradativamente foram desviando o PT daquele caminho, levando-o a transformar-se
em mais um partido reformista, do tipo social-democrata, até chegar aos dias de
hoje, completamente degenerado, onde opera no interior do movimento como uma
agência da burguesia e, no Estado, como gerenciador dos negócios do imperialismo.
Evitar a degeneração é
uma via dialética de duas mãos: só a estreita vinculação com a classe
trabalhadora, a sua educação no “espírito” revolucionário e no programa
revolucionário, combatendo todo o tipo de ilusão e de conciliação, podem prevenir a degeneração de um partido
revolucionário, isto é, a transformação de um partido dos trabalhadores em mais
um partido da burguesia; e somente um partido revolucionário pode agir de forma
consciente, combatendo, denunciando e expulsando os partidos da burguesia dos
sindicatos e do movimento operário como um todo. Devemos rechaçar não os
partidos em geral, de forma abstrata, mas os partidos burgueses e reformistas,
em particular.
O que os trabalhadores
precisam rechaçar, portanto, é o programa reformista – os seus conchavos de
bastidores, o sindicalismo economicista, as ilusões perniciosas que dele
decorrem –, bem como todos aqueles demagogos que o sustentam com uma oratória
pseudo-revolucionária. O PT e a CUT se vão, mas as lições ficam. A prostração,
o desânimo e o ceticismo somente beneficiam a burguesia, porque, puxando para
trás a vanguarda proletária, paralisam o próprio proletariado. Assimilar estas
lições é o primeiro passo para superar o PT e não voltar a cometer os seus
erros.
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* Este texto foi enviado para publicação no Le Monde Diplomatique Brasil, uma vez que os seus editores dizem que a revista está aberta à contribuições. Porém, até o presente momento, mesmo enviando muitos e-mails para a redação, o autor do texto não recebeu uma única resposta do periódico, o que o fez concluir que sua contribuição foi "democraticamente" e sumariamente ignorada pelos editores.