quarta-feira, 4 de março de 2015

Carta aos alunos do Alcides Cunha*

Queridos alunos do Alcides Cunha,

Existe a grande possibilidade de eu ser removido de escola pela terceira vez em menos de 5 anos (ou talvez me isolem no turno da noite). Como sempre, trata-se de perseguição política. É claro que a direção da escola e a SEDUC não assumem isso abertamente e procuram mascarar tudo ao máximo. Se escondem atrás da legislação (usada somente quando interessa) afirmando que eu sou professor contratado e que as “minhas horas na escola sobraram”. Ignoram todo o trabalho que desenvolvemos até aqui.
            
Na verdade, tudo isso está sendo feito de forma ilegal e, sobretudo, imoral, pois eu sou membro pleno do Conselho Escolar e, também, representante sindical da escola. A Constituição Federal proíbe a minha remoção. Ela diz, no seu artigo 8º, VIII: "é vedada a dispensa do empregado sindicalizado a partir do registro da candidatura a cargo de direção ou representação sindical e, se eleito, ainda que suplente, até um ano após o final do mandato, salvo se cometer falta grave nos termos da lei". Mas conforme discutimos diversas vezes em aula, quando se trata de colocar em prática os interesses dos trabalhadores ela é sempre letra morta. Infelizmente isso pode se confirmar novamente. Para fazer valer os “direitos” desta Constituição é preciso de mobilização.
           
Todos sabem que estávamos em uma grande luta pela abertura das contas da escola e que os movimentos da direção para a minha remoção acontecem exatamente em um momento crítico desta luta, quando a sindicância nem sequer terminou (isso fica claro se constatarmos que outros professores, igualmente do Conselho e engajados nesta luta, estão ameaçados de remoção também). Sendo assim, tudo isso configura-se como uma clara perseguição política. Todos aqueles que colocam os problemas de “legislação” dos nomeados e contratados à frente desta conclusão cumprem o melhor papel de cúmplices daqueles que saqueiam os poucos recursos financeiros que entram na nossa escola, bem como do governo.
           
Cabe acrescentar que toda esta política autoritária por parte da direção é respaldada pela SEDUC (tanto na gestão Tarso, quanto na gestão Sartori), que está demitindo professores contratados aos montes. E por que fazem tudo isso se faltam inúmeros professores em várias escolas? Para enxugar o quadro do magistério público e destinar o nosso salário para o pagamento dos bancos e dos agiotas internacionais (Banco Mundial, FMI, etc.)

Por tudo isso, peço o apoio de vocês e da comunidade escolar neste momento difícil. Este ataque a mim é, na verdade, à própria comunidade escolar, que seguirá sem saber sobre as contas da escola e, da mesma forma, bem distante das questões de direção e de administração do Alcides Cunha. Se o ano começar e eu não estiver com vocês (ou se a “pena” for menor e eu estiver na noite), saibam que tudo aconteceu contra a minha vontade e da forma mais autoritária possível. Caso haja este desfecho ruim, não desanimem. O que eles mais querem é que isto sirva de exemplo para que vocês, bem como os professores, calem a boca, não reclamem e nem reivindiquem o que é de vocês por direito! Saibam que eu não me arrependo de nada do que fiz e sigo orgulhoso de toda a luta que construímos juntos, bem como dos grandes debates das nossas aulas. Eles podem matar uma, duas, dez flores, mas nunca deterão a primavera.
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* Carta de um professor contratado perseguido politicamente pela direção da referida escola estadual.

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