domingo, 5 de outubro de 2025

Como a ideologia de livre mercado derrota a esquerda?

 

A favela venceu?

1.
A esquerda e os comunistas falam em defender e ouvir o povo.
Querem ser o povo; confundir-se com o povo.
O povo fala; e os comunistas e a esquerda não querem ver que os valores expressos pelo povo estão dominados pela ideologia do livre mercado.

2.
É triste, preocupante e desesperador ver o povo autoescravizando-se por meio dos valores e das palavras da classe dominante.
Dói mais ainda quando percebemos que tais valores individualistas conquistaram seus corações e suas mentes.
Muitas desculpas teóricas são dadas, que nos acalmam, mas que não enfrentam as raízes do problema.

3.
Enfrentar este grave problema requer olhá-lo de frente, sem desculpas.
Nos autoiludirmos através de discursos políticos messiânicos de um mundo vindouro em que os trabalhadores praticarão a virtuosa consciência de classe não ajuda a resolver o problema de agora, senão que reforça a ideologia de livre mercado e a crença da classe trabalhadora nela.

4.
Reconhecer o egotismo presente em todos nós é o ponto mais difícil, mas, também, o mais importante.
Os trabalhadores, em sua maioria, dizem:
“Sou empreendedor”.
“Os capitalistas estão certos; e os comunistas são maus”.
“Capitalismo é democracia; comunismo, Rússia, Venezuela, China e Cuba são ditaduras”.
“Livre mercado funciona; o setor público e social, não!”.
Por que isso ocorre?
Algumas respostas duras são dadas pela psicologia de massas reichiana, mas a esquerda e os comunistas recusam-se a olhá-las.

5.
A ética que interessa aos trabalhadores e seus filhos é “ser alguém na vida”, entendido “ser alguém” como ter dinheiro e posses.
O social é visto e sentido como espaço incorrigível de fofocas, intrigas e corrupção.
Queremos todos fugir do trabalho, e não organizarmos uma classe trabalhadora de modo que o trabalho em si possa governar e orientar as relações políticas, econômicas e éticas: em suma, que governem o poder.
Queremos enriquecer para não precisar trabalhar mais, mas não queremos tornar os locais de trabalho melhores, mais democráticos, acolhedores e inclusivos.
Nossa noção de democracia é: poder para nós, nunca para o que pensa diferente.

6.
O pior cego é aquele que não quer ver.
A ideologia de livre mercado é hegemônica na sociedade civil, nos locais de trabalho, nos churrascos de família, nas ruas, nas favelas!
Por quê?
Porque a esquerda e os comunistas não sabem enfrentá-las no terreno das crenças pessoais, auto-afirmativas, egotistas, espirituais, religiosas, enfim, no terreno da psicologia de massas, onde as esferas caóticas do inconsciente individual e coletivo se interpenetram e dominam e manipulam o próprio inconsciente individual da esquerda e dos comunistas.
Em síntese: temos medo de nos enfrentarmos com a consciência atrasada da massa, pois isso significa perder popularidade e nos enfrentarmos com o nosso próprio terrificante espelho profundo...